O extermínio dos índios Waimiri-Atroari

Museu de Imagens

Ao final da Ditadura Militar, deu-se início ao processo de contabilização dos mortos. Entretanto, os genocídios contra povos indígenas não foram contabilizados, em especial o extermínio do povo Waimiri-Atroari.

ATUALIZADO EM 01/04/2015

Na imagem cedida pelo jornalista Edílson Martins, uma maloca é incendiada devido a ataques, segundo alguns relatos. Foto: Edílson Martins.

“Guerrilheiro, Lê com atenção esta “mensagem”
Guarda este panfleto com cuidado
Ele é o teu passaporte para a vida
Estás cercado
Teus momentos estão contados
Vê na operação esboçada que teu fim
Está próximo!
Teus companheiros estão morrendo
Tu mesmo estás ferido
Os soldados brasileiros – teus irmãos
Estão cada vez mais próximos
A aviação te bombardeia sem cessar
Olha a bandeira de teu país
És brasileiro – lembra-te disto
Reflete, pensa bem – o verdadeiro inimigo
Pode estar a teu lado: repudia-o, aprisiona-o, MATA-O
Irmão – rende-te
Teu passaporte: esta mensagem
Tua recompensa: a vida
Teu futuro: perdão. Do comandante do teatro de operações”

(Panfleto lançado sobre o território indígena dos Waimiri-Atroari, imagem reproduzida abaixo)

Panfleto lançado sobre o território indígena dos Waimiri-Atroari. Fonte: Relatório Comitê Estadual da Verdade do Amazonas.

Ao final da Ditadura Militar, foi dado início à contabilização do número de pessoas desaparecidas e mortas em decorrência do regime. Através de relatórios dos Tribunais da Justiça Militar e dos depoimento de sobreviventes, chegou-se a um número que ainda é contestado por muitos.

Isso porque, nesses números não estão contabilizados inúmeros desaparecidos e, em especial, não estão contabilizadas as tribos indígenas que sofreram um processo de extermínio durante o período militar.

Um desses exemplos é o caso do genocídio dos índios Waimiri-Atroari. De acordo com pesquisas recentes promovidas pelo Ministério Público juntamente com a Comissão da Verdade, mais de 2 mil índios foram sumariamente executados durante a construção da BR-174, rodovia que atravessou o território da tribo no estado do Amazonas.

Na imagem cedida pelo jornalista Edílson Martins, uma maloca é incendiada devido a ataques, segundo alguns relatos. Foto: Edílson Martins.

Visando criar um caminho de escoamento para a mineração, o governo militar começou a construção da rodovia ignorando completamente a existência da tribo. Contudo, os índios Waimiri-Atroari, conhecidos como sendo uma das tribos mais fechadas do território nacional, resistiram. Através de metralhadoras e outras armas pesadas, não só a resistência foi contida, mas também mulheres, crianças e idosos foram mortos pelo Exército e jagunços.

De um total de 6 mil indivíduos inicialmente, ao final da década de 1980 restaram somente pouco mais de 300 Waimiri-Atroari. Hoje, os sobreviventes lutam para buscar justiça e reparações pelos parentes mortos e para que sua história jamais seja esquecida. Além dos Waimiri, os Guaranis também sofreram massacres por conta da construção da Hidrelétrica de Itaipu e também buscam reparações.

Referências:
– “1º Relatório do Comitê Estadual da Verdade: O genocídio do povo WAIMIRI-ATROARI“. Comissão da Verdade do Amazonas.
– “Comissão da Verdade investiga crimes contra povo indígena“. UOL Notícias.
– “Livro sobre a ditadura militar e o genocídio dos Waimiri–Atroari foi lançado em Roraima“. Instituto Humanitas Unisinos.