A verdadeira história do Homem da Máscara de Ferro

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No século XVII, um homem cuja identidade ainda é desconhecida foi preso. Ele era conhecido unicamente como Máscara de Ferro. Essa é sua história.

ATUALIZADO EM 16/12/2013
O Homem da Máscara de Ferro

Gravura: “L’Homme au Masque de Fer”, autor anônimo, 1789. Fonte: Library of Congress

Ao final do século XVII, mais precisamente no ano de 1679 e em pleno reinado de Luís XIV, um homem desconhecido, cuja identidade permanece um mistério até hoje, foi capturado pelo governo francês e feito prisioneiro. Sob responsabilidade pessoal de Sir De Saint-Mars, comandante da fortaleza e prisão de Pignerol em Savóia, o prisioneiro foi mantido sem qualquer registro oficial de prisão, sendo simplesmente chamado de “Máscara de ferro” pela equipe de carcereiros.

A máscara de ferro em um prisioneiro era algo completamente inusitado, mesmo em presos tidos como inconvenientes ao governo francês. Para seu rosto precisar ser escondido, com certeza aquele prisioneiro guardava consigo informações preciosas que constrangiam a alta nobreza francesa. Embora o reconhecimento facial do preso fosse praticamente nulo, os seus movimentos ágeis, maneiras refinadas e elegantes conduziam ao raciocínio de ser ainda jovem e possivelmente da nobreza.

O “Mascara de Ferro”, boa parte do tempo, se mantinha bem longe dos olhares curiosos dos demais presos, inclusive, sendo a ala do calabouço, onde ficava, muito bem guardada e com contato restrito à carceragem. Todavia, em que pese o zelo extremo na segurança do “Mascara de Ferro”, era tratado por todos com gentileza e respeito, principalmente pelo Sr. De Saint-Mars, comandante do presídio.

Por muitas vezes o ilustre prisioneiro sofreu transferências de presídios, bem como promoveu tentativas frustradas em se comunicar com o mundo exterior. Em 1698, finalmente o homem da máscara de ferro foi transferido para a famosa prisão da Bastilha. Foi uma longa viagem, planejada com detalhes minuciosos, guarnecida por uma robusta escolta de soldados para proteger as duas carruagens utilizadas no translado; uma delas, a primeira, levando o “Mascara de Ferro” e a segunda levando a guarda da prisão para a qual se dirigiam.

Enquanto preso na Bastilha, também não recebeu nenhum tipo de registro de seu nome. Finalmente em 1703, subitamente e de uma forma totalmente misteriosa, o Mascara de Ferro adoece num dia e morre no outro, tendo sido enterrado no cemitério de Saint-Paul, e, pela primeira vez, seu suposto nome foi revelado, constando dos registros como sendo De Marchiel (ou Marchioly), com 45 anos de idade. Porém, soa estranho um homem preso com tanto segredo e cautela ser apenas um cidadão “comum”, já que Marchioly não era ninguém de renome.

O Homem da Máscara de Ferro sempre despertou curiosidade entre historiadores e escritores, ficando famoso nas obras de Alexandre Dumas e Voltaire que levantou a curiosa hipótese dele ser um irmão gêmeo do rei Luís XIV e, sendo assim, um constrangimento real. Porém nunca houve um consenso de quem, de fato, foi aquele prisioneiro nem o grau de veracidade do que se conhece hoje a respeito de sua história, suscitando diversas teorias da conspiração.

O fato é que o famoso homem da máscara de ferro realmente existiu e até hoje pouco se sabe sobre ele. Com um pano de fundo com tais características, é explicável que várias versões e outras mais mirabolantes, fossem divulgadas, sem que pudessem, efetivamente, serem tidas como verídicas.

Curiosidades

– Quando o Criptólogo Éthienne Bazeries estudou e quebrou uma cifra do rei Luís XIV, ele verificou que haviam grupos numéricos relacionados às sílabas do texto. Ele leu que o Rei estaria descontente com um comandante que havia levantado um cerco a uma cidade ao norte da Itália, resultando em uma derrota do exército francês. Esse despacho ordenou que o responsável, um tal de Vivien Labbé, senhor de Bulond, fosse preso e que as tropas o conduzissem “para a fortaleza de Pignerol, onde Sua Majestade deseja que seja trancado numa cela à noite e com liberdade durante o dia de caminhar junto às muralhas com 330 309”. 

– As duas palavras cifradas no final dessa mensagem não aparecem em nenhum outro documento oficial. Bazeries arriscou assumir que substituíam a palavra máscara e um ponto final. Assim, o Labbé seria o Máscara de Ferro. Ainda existe o mistério e criptógrafos acreditam que possam existir mais documentos cifrados, prática comum no tempo. O problema seria conseguir encontrar um que elucide o caso., pois diversos documentos teriam sido destruídos na Queda da Bastilha em 1789.

– A máscara do prisioneiro era, na verdade, segundo alguns historiadores defendem, feita de veludo e não de ferro, como conta a História.

Gravura: “L’Homme au Masque de Fer”, autor anônimo, 1789. Fonte: Library of Congress
Referências:
George Agar Ellis, The true history of the State Prisoner commonly called the Iron Mask, here identified with Count E. A. Mattioli, London, J. Murray, 1826.
COUTO, Sérgio Pereira. Códigos e Cifras da Antiguidade à Era Moderna. Editora Nova Terra.