Imigração nos Estados Unidos do século XIX: rumo à pobreza

Museu de Imagens

A imigração nos Estados Unidos foi fruto do desespero e pobreza pela qual muitos europeus passaram no século XIX. Nos EUA, também encontravam a miséria.

ATUALIZADO EM 27/04/2015
Foto: Jacob Riis / Museum of the City of New York

Crianças dormindo na Mulberry Street, ca. 1890. Foto: Jacob Riis / Museum of the City of New York

Anualmente, milhares deles desciam na costa leste dos Estados Unidos. Poucos saíam de seu país de origem por livre e espontânea vontade. Isso porque, foi o desespero, a fome e a pobreza que impeliram a imigração nos Estados Unidos durante o século XIX e século XX, levando imigrantes sonhadores novamente para a miséria.

Ao longo do século XIX, a Revolução Industrial se estabeleceu em parte da Europa, especialmente na Inglaterra. Contudo, a ampliação fabril não trouxe a libertação financeira e a divisão por igual da bonança para a maioria da população, ao contrário, muitos trabalhavam e poucos recebiam. A pobreza ainda era pungente. Juntamente à Revolução Industrial, em meados de 1840, a Irlanda passou por uma onda de fome, precarizando ainda mais a vida do povo.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Cortiço em Nova Iorque, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Lower East Side de Manhattan, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Desesperadas por liberdade, trabalho ou ambos, inúmeras pessoas embarcaram nos navios em busca da tão falada terra das oportunidades, cidades maravilhosas dos Estados Unidos, onde o preconceito, a intolerância e pobreza não existiam e o solo ainda era virgem do uso do arado.

Após tempestades enfrentadas em alto mar por navios precários, ainda chegavam esperançosas em conseguir o tão sonhado visto; a passagem para a felicidade e fartura. Contudo, ao desembarcarem nos portos, a saga dos imigrantes apenas entrava em sua fase mais difícil.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Normalmente, aos imigrantes que chegavam à cidade restava morar em um quartinho de alguma favela ou cortiço. Muitas vezes nesse único quartinho de um cômodo só, várias pessoas se apinhavam. Na foto, uma moradora de uma das favelas de Nova Iorque posa para a foto, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum

A moradia desse feirante era um beco onde montava sua cama sobre dois barris. Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum.

Antes de poderem adentrar em território norte americano, era necessário passar por uma rígida inspeção por fiscais de saúde. Bocas eram inspecionadas e cabelos revistados para ver se não havia um único sinal da existência de piolhos ou outras doenças. Depois disso tudo, precisavam esperar pacientemente, em uma longa fila, a aprovação ou a rejeição de seus vistos.

Uma vez rejeitados, eram deportados de volta para a velha realidade e para o desespero anterior. Aqueles que conseguiam a desejada nova cidadania, encontravam uma realidade diferente daquela divulgada nas propagandas maravilhosas do novo mundo: a pobreza.

Ao contrário do que se acreditava e do que ainda hoje é mostrado ao grande público, cidades como Nova Iorque eram repletas de favelas e cortiços para onde uma massa nova imigrante anualmente se deslocava, engrossando as estatísticas da miséria.

Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum

Mulheres dormem todas juntas em um quartinho. Para se protegerem do frio, há apenas o forno ao centro da imagem, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum

Foto: Jacob A. Riis, ca. 1890.

Foto: Jacob A. Riis, ca. 1890.

Ao final do século XIX, as classes abastadas de Nova Iorque e norte americanas ainda desconheciam quase por completo as condições precárias em que se encontravam os imigrantes e pobres nova iorquinos. A pobreza somente foi desnudada quando Jacob Riis, um imigrante dinamarquês pobre e sem trabalho, resolveu documentar e denunciar o descaso que se encontrava uma boa parte da população no Lower East Side de Manhattan.

Jacob Riis inclusive é visto como um dos precursores do fotojornalismo de denúncia estadunidense, pois através de fotografias, gravuras e estatísticas levantadas junto à população, ele conseguiu juntar um material nunca antes visto a respeito da miséria invisibilizada. Riis acreditava que as condições desumanas em que muitos viviam eram fruto de descaso e desconhecimento das autoridades e das classes abastadas.

Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum.

Escola montada em um cortiço, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Sapateiro trabalhando em quartinho alugado que servia como moradia também, 1895-1896. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Assim, o imigrante dinamarquês imaginava que se conseguisse mostrar a realidade, poderia motivar pessoas importantes a erradicar a pobreza. Então, em 1889, Jacob escreveu um artigo expondo algumas das duras condições das favelas e cortiços de Nova Iorque, que foi publicado com uma série de suas fotografias na Revista Scribner.

Devido às imagens perturbadoras, outros jornais da cidade haviam se recusado a publicá-lo também. No entanto, após o sucesso do artigo de Jacob Riis na revista Scribner, o imigrante deu início à criação de um livro denúncia chamado “How the Other Half Lives: Studies among the Tenements of New York” (tradução livre: Como a outra metade vive: estudos acerca dos cortiços de Nova Iorque) que foi publicado em 1890.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Família pobre no Lower East Side, 1888. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riis.

Foto: Jacob A. Riis.

O título do livro é uma referência a uma frase do escritor francês François Rabelais, que escreveu a frase famosa: “metade do mundo não sabe como vive a outra metade” (“la moytié du monde ne sait l’autre comment vit”).

Em cada página, Riis denunciava as condições precárias de vida, o trabalho infantil, a miséria, fome, doença e morte a que os imigrantes e pobres estavam fadados a ter na tal terra das oportunidades. Jacob finalizava o livro sugerindo uma forma de combate à pobreza, em que dizia que as classes abastadas não deveriam apenas buscar o lucro e o dinheiro, mas deveriam ter o valor moral de buscar o bem estar de todas as pessoas.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Homem em sua casa em meio a um cortiço, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riss.

Favela de Nova Iorque, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis.

Como resultado, “Como a outra metade vive: estudos acerca dos cortiços de Nova Iorque” fez com que as autoridades buscassem melhorar as condições de vida da população; cortiços foram derrubados, sistemas de esgotos foram ampliados, escolas foram construídas etc.

Contudo, por muitas décadas a pobreza ainda se fez presente, escondida dos holofotes das propagandas do sonho de vida americano. Ainda na década de 1960, novamente uma liga de fotógrafos se juntou para denunciar a miséria estadunidense invisível aos olhos do mundo. Atualmente, com a ampliação da informação e das mídias alternativas, as realidades sociais andam mais transparentes e há uma divulgação maior da vida de milhares que ainda se encontram abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos.

Veja mais imagens abaixo:

Menino trabalhando em uma fábrica, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis.

Um apartamento com um pouco melhor de condições. Poucos imigrantes e nova iorquinos pobres tinham condições de pagar o aluguel de um apartamento um pouco menos precário como o da foto. Foto: Jacob A. Riis.

Foto: Jacob A. Riis

Foto: Jacob A. Riis.

Referências:
– YAPP, Nick. “1900s: Decades of the 20th Century”. GettyImages. Könemann, 2001.
– STAMP, Jimmy. “Pioneering Social Reformer Jacob Riis Revealed ‘How The Other Half Lives‘ in America. Smithsonian Magazine, 2014.
– KIRSCH, Adam. “How Jacob Riis Lived: Tom Buk-Swienty’s ‘The Other Half’“. The Sun, 2008.