
Os leões de Tsavo empalhados. Foto: Field Museum
Em março de 1898, os ingleses começaram a construir uma ferrovia sobre o rio Tsavo, no Quênia. Para a construção havia sido contratado o engenheiro Coronel John Henry Patterson (1865 – 1947) e logo após sua chegada ao local, mortes violentas começaram a acontecer durante a noite. Os autores dos assassinatos foram identificados como dois leões que rondavam a região da obra: Sombra e Escuridão.
Os ataques dos Leões de Tsavo
Durante nove meses, todas as noites homens foram arrastados de suas tendas e devorados ferozmente pelos leões de Tsavo. Os assustados trabalhadores tentaram se proteger a qualquer custo; construíram barreiras de espinhos ao redor dos acampamentos, acenderam fogueiras e implantaram um rigoroso toque de recolher ao cair da noite. Mesmo assim, os ataques continuaram e, conforme o relato do Coronel, em dezembro as obras tiveram que ser paralisadas, vez que trabalhadores abandonaram seus postos com medo de Sombra e Escuridão.
O Coronel Patterson detalhou o ataque dos felinos em seu livro “The Man-Eaters of Tsavo” (Os devoradores de homens de Tsavo) com a seguinte passagem:
(…) Infelizmente, essa situação próspera não continuou por muito tempo, e nosso trabalho logo foi interrompido de uma maneira rude e assustadora. Dois leões, os mais vorazes e insaciáveis comedores de homens entraram em cena, e por mais de nove meses travaram uma guerra intermitente contra a estrada de ferro e todos aqueles ligados a ela nas proximidades de Tsavo. Isso culminou em um perfeito reinado de terror em dezembro de 1898, quando eles conseguiram levar os trabalhadores da ferrovia a uma paralisação completa, por cerca de três semanas. No início, eles nem sempre foram bem sucedidos em seus esforços para levar a vítima, mas passaram a enfrentar qualquer perigo para a obtenção de seu alimento favorito. Seus métodos, em seguida, tornaram-se tão misteriosos, e sua espreita e ataque tão bem cronometrados e tão certos do sucesso, que os trabalhadores acreditavam firmemente que não eram animais de verdade, mas sim demônios em forma de leão. Muitas vezes os coolies solenemente me garantiam que era absolutamente inútil tentar matá-los. Eles estavam totalmente convencidos de que os espíritos revoltados partiram de dois chefes indígenas que tomaram aquelas formas, a fim de protestar contra a estrada de ferro que estava sendo construída em seu país, e decidiram parar o seu progresso para vingar o insulto, assim, demonstrado por ela. (…)

Construção da ferrovia em Tsavo, século XIX.

Ferrovia em construção durante os ataques dos leões Sombra e Escuridão.
Todos os envolvidos nas obras começaram a achar estranho o comportamento extremamente hostil dos dois leões de Tsavo, alegando que, na verdade, eles não eram meros animais e sim demônios, segundo suas crenças. A forma como atacavam seguia sempre uma estratégia e ocorria de forma coordenada, o que assustava ainda mais as pessoas da região.

O primeiro leão capturado, 1898. Foto: Smithsonian Institute.
Alega-se que durante os nove meses, Sombra e Escuridão tenham matado cerca de 140 pessoas, embora exista discordância quanto ao número. Registros históricos atribuem, entretanto, apenas 30 mortes, enquanto outros registros não oficiais alegam que houve outras mortes que não teriam relação com a construção, mas sim com os leões.
Muitas teorias foram propostas para explicar o comportamento “anormal” dos leões de Tsavo, Sombra e Escuridão, entre as quais estavam: baixa população animal da cadeia alimentar, doenças e falta de técnica nos enterros dos mortos que atrairiam os felinos novamente à região pelo cheiro de sangue. Contudo, fora atribuída como causa principal para os ataques possíveis doenças dentárias nos leões, prejudicando o comportamento de caça. Além desse motivo, a região era rota de tráfico negreiro, o que propiciava abandono de corpos no local e, por fim, os leões, alimentando-se de restos humanos, passaram a considerar o homem como alimento principal.

O segundo leão caçado, 1898. Foto: Smithsonian Institute.
Buscando acabar com esse cenário e tendo sua reputação em jogo, Patterson, que também era um caçador experiente, resolveu enfrentar as feras, iniciando uma caçada. Após meses nessa jornada, Patterson matou o primeiro felino na noite de 9 de dezembro de 1898 e, 20 dias depois, matou o segundo. Os leões eram machos e não possuíam jubas (maneless) como outros de Tsavo. Entretanto, o que chamou atenção foi o tamanho de ambos, anormalmente grandes; medindo, cada um, mais de três metros de comprimento.
O Coronel foi aclamado como um herói por todos e finalmente os trabalhadores retornaram às obras, que foi concluída em fevereiro de 1899. Em 1924, as peles de Sombra e Escuridão foram vendidas ao Museu Field em Chicago e lá permanecem em exposição permanente.
Para conhecer mais sobre a história dos Leões devoradores de homens, podem conferir o filme “A Sombra e a Escuridão”.