Uma pessoa que era acusada de ser bruxa, automaticamente era tida como alguém que ou fazia pactos com criaturas demoníacas, ou estaria possuída por elas.
Matthew Hopkins era um dos nomes mais famosos quando o assunto era bruxaria na Inglaterra do século XVII. Ao longo da década de 1640, a Inglaterra esteve tomada por uma histeria coletiva a respeito de rumores acerca da existência de bruxas convivendo em meio às diversas comunidades puritanas do país. Foi justamente nessa época que um homem surgiu e se auto-intitulou “caçador de bruxas”.
Durante aquilo que viria a ser seu reinado de terror e tortura (1644 – 1646), Matthew Hopkins adquiriu dinheiro e fama através das práticas de acusar de bruxaria e executar cerca de 300 mulheres inocentes em toda a Inglaterra. Para se ter uma ideia, entre o século XVII e XVIII, cerca de 500 mulheres morreram acusadas de bruxaria; 300 foram frutos dos trabalhos diretos de Matthew Hopkins.
Vivendo uma vida praticamente desconhecida antes do ofício que lhe rendeu sua fama, Matthew Hopkins agia sem qualquer autorização legal do Parlamento inglês. Normalmente, sua “autoridade” para a caça às bruxas era concedida por meio das lideranças de aldeias e cidades pequenas (leste de Suffolk, Essex, Norfolk, Cambridgeshire, Northamptonshire, Bedfordshire etc), onde atuou cometendo perjúrio contra mulheres destas comunidades conjuntamente ao seu cúmplice, John Sterne.

O fim de uma bruxa era certo: a fogueira. A fogueira trazia a ideia de que as chamas purificariam a alma daquele acusado de bruxaria.
Não é muito claro para os historiadores que se debruçaram sobre este tema como Hopkins começou seu ofício de caçador de bruxas. Acredita-se, porém, que ele tenha se baseado em alguns estudos e escritos que estavam sendo lançados à época tais como, “Demonologia”, escrita pelo rei James (Edimburgo, 1597), “A descoberta maravilhosa das bruxas no condado de Lancaster”, de Thomas Potts (Londres, 1613) e “Um guia para os grandes jurados”, de Richard Bernard (Londres, 1627, 1629).
Possivelmente após estudar publicações como as exemplificadas acima, Hopkins constituiu um modus operandi próprio, que essencialmente consistia em transformar meras fofocas, insinuações e intrigas de vizinhos em verdadeiras acusações formais de bruxaria e adoração ao Diabo. Normalmente suas vítimas eram idosas pobres e incapacitadas, cuja aparência e condição social as transformavam em estereótipos de bruxas em suas comunidades.

Ilustração de “The Discovery of Witches”, de Matthew Hopkins, sobre os tipos de bruxas e as formas que poderiam tomar, 1647.
Em suas abordagens perante suspeitas de bruxaria, Hopkins costumava se utilizar de métodos de tortura sutil para facilitar a obtenção de confissões. Ainda que o uso de tortura fosse considerado ilegal na Inglaterra, este auto-intitulado caçador de bruxas ou a praticava de forma sutil, ou passava por cima da lei e torturava abertamente suas acusadas.
Durante suas investigações, Hopkins utilizava diversas técnicas de tortura visando o enfraquecimento das resistências mentais e físicas de suas acusadas, como a privação de sono. Outra de suas técnicas consistia em cortar a pele das acusadas com uma faca cega; a ausência de sangramento nestes cortes era tida como um sinal de bruxaria. Também era comum que fizesse uso do Teste de Natação, que consistia em atirar as suspeitas de bruxaria amarradas em rios ou lagos: se afundassem, eram consideradas inocentes; o flutuar, ao contrário, seria indício claro de adoração ao Diabo ou bruxaria. Nesse último caso, a ideia por trás deste teste era a de que bruxas teriam renunciado ao batismo e, portanto, seriam rejeitadas pela água.
Normalmente, após o desgaste por passarem por intensas sessões de tortura, suas vítimas acabavam ou confessando abertamente, ou falavam palavras soltas e delírios que eram interpretados como tal. O resto das estórias de pretensas práticas de bruxaria era preenchido com detalhes coloridos inventados por ele e seu assistente, John Sterne. A ausência de juízes formados em Direito nestas comunidades, decorrente das turbulências da guerra civil então em curso no país (1642 – 1651), fazia com que juízes de paz, sem nenhum tipo de preparo, fossem os responsáveis pelos julgamentos contra acusações de bruxaria.
Após dois anos enriquecendo e levando mais de 300 pessoas à execução, Hopkins e Sterne foram acusados de tortura e perjúrio por um clérigo em 1646, o que teria forçado ambos a abandonar seus ofícios. Algumas lendas dizem que o próprio Hopkins teria sido acusado de bruxaria e morto no teste de natação em 1646, depois de ter afirmado publicamente deter uma “Lista do Diabo” com os nomes de todas as bruxas da Inglaterra. Segundo esta lenda, o caçador de bruxas teria obtido a suposta lista através do uso de magia. Os estudiosos do tema, entretanto, não detém consenso acerca do que efetivamente teria se sucedido com Matthew Hopkins após 1646.
O que é certo é que o legado negativo de Hopkins foi enorme. Além das centenas de mortes provocadas pela histérica caça às bruxas que conduziu, seus escritos no livro “The Discovery of Witches” foram recomendados em livros de Direito e amplamente utilizados em julgamentos e execuções na Nova Inglaterra, então colônia inglesa na América do Norte (atualmente parte dos EUA). Neste caso, estudiosos acreditam que a ampla utilização de parte das ideias e práticas de Matthew Hopkins durante o julgamento das Bruxas de Salém (1692 – 1693) teve relação direta com seu veredicto, em que, além da realização de 150 prisões, 19 mulheres foram condenadas à morte.

Alguns pertences supostamente utilizados por Matthew Hopkins na caça às bruxas.
1. Uma flor seca.
2. Uma cruz aparentemente feita de couro cru.
3. Uma folha seca.
4. A placa do osso.
5. Um galho em forma de um pé de pau.
6. Um pedaço de casca de uma árvore.
7. Um pedaço de pergaminho com o “talismã Matthew Hopkins”.
8. Possivelmente folhas secas.
9. Uma cabeça de cera com cabelo.
10. Um pedaço de madeira deteriorada.
11. Um pedaço de osso com pele seca afixada.
12. Quatro garras de aves.
13. Um pedaço de chifre em forma de unha.
14. Osso do dedo mínimo humano.
15. “Selo” de Salomão.
16. Pele humana com alguns sinais “mágicos”.
17. Um galho tendo musgo ou líquen.