O pau-de-arara na Ditadura Militar

Museu de Imagens

Durante a parada militar de Belo Horizonte, um homem aparecia sendo carregado em um "pau-de-arara", um dos instrumentos de tortura mais utilizados da época.

ATUALIZADO EM 17/05/2014
Segundo o fotojornalista Rodrigo Dias, a imagem, não menos terrível do que se parece, trata-se na realidade de uma demonstração de como torturar.

Homem sendo carregado em um “pau de arara” durante uma parada militar na década de 1970.

Em 2012, o pesquisador Marcelo Zelic, ao revisar uma extensa documentação sobre o período da Ditadura Militar e os povos indígenas, acabou encontrando um vídeo com uma cena que lhe chamou a atenção.

Durante a parada militar de Belo Horizonte, que mostrava a formatura da primeira turma de alunos da Guarda Rural Indígena, um homem aparecia sendo carregado em um “pau-de-arara”, um dos instrumentos de tortura mais utilizados da época.

Segundo o fotojornalista Rodrigo Dias, a imagem, “não menos terrível do que se parece, trata-se na realidade de uma demonstração de como torturar”.

A unidade de segurança que estava sendo formada era uma estratégia do regime militar para continuar seus planos de expansão ao interior das reservas amazônicas e pantaneiras sem a resistência das tribos, segundo Marcelo. Já havia, na época, grupos que denunciavam mortes e até genocídio de indígenas pela ditadura. Uma dessas denúncias e talvez a mais grave é o caso do genocídio de quase 2 mil índios Waimiri-atroari, investigado agora pela Comissão Nacional da Verdade.

Atualmente a Comissão da Verdade de Minas Gerais tenta desvendar o nome da pessoa que estava pendurada no instrumento.

Curiosidade:

O projeto que ficou conhecido como “Brasil Nunca Mais” (BNM) se utilizou de diversos arquivos da Justiça Militar para descrever as torturas que vinham ocorrendo. A partir de depoimentos, julgamentos e documentos do governo, o BNM transcreveu a seguinte passagem referente à tortura com o pau-de-arara:

“[…] O pau-de-arara consiste numa barra de ferro que é atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o ‘conjunto’ colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 cm. do solo. Este método quase nunca é utilizado isoladamente, seus ‘complementos’ normais são eletrochoques, a palmatória e o afogamento[…]”.

Foto: É parte do vídeo do documentarista alemão Jesco von Puttkamer (1919-94) e doado em 1977 ao IGPA (Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia), da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Referências:
– “Homem torturado em público na ditadura militar tem identidade revelada”. Correio do Brasil.
– “1º Relatório do Comitê Estadual da Verdade: O GENOCÍDIO DO POVO WAIMIRI-ATROARI“.
– “Brasil Nunca Mais: Um relato para a História”. Editora Vozes, 2010.