
Homem sendo carregado em um “pau de arara” durante uma parada militar na década de 1970.
Em 2012, o pesquisador Marcelo Zelic, ao revisar uma extensa documentação sobre o período da Ditadura Militar e os povos indígenas, acabou encontrando um vídeo com uma cena que lhe chamou a atenção.
Durante a parada militar de Belo Horizonte, que mostrava a formatura da primeira turma de alunos da Guarda Rural Indígena, um homem aparecia sendo carregado em um “pau-de-arara”, um dos instrumentos de tortura mais utilizados da época.
Segundo o fotojornalista Rodrigo Dias, a imagem, “não menos terrível do que se parece, trata-se na realidade de uma demonstração de como torturar”.
A unidade de segurança que estava sendo formada era uma estratégia do regime militar para continuar seus planos de expansão ao interior das reservas amazônicas e pantaneiras sem a resistência das tribos, segundo Marcelo. Já havia, na época, grupos que denunciavam mortes e até genocídio de indígenas pela ditadura. Uma dessas denúncias e talvez a mais grave é o caso do genocídio de quase 2 mil índios Waimiri-atroari, investigado agora pela Comissão Nacional da Verdade.
Atualmente a Comissão da Verdade de Minas Gerais tenta desvendar o nome da pessoa que estava pendurada no instrumento.
Curiosidade:
O projeto que ficou conhecido como “Brasil Nunca Mais” (BNM) se utilizou de diversos arquivos da Justiça Militar para descrever as torturas que vinham ocorrendo. A partir de depoimentos, julgamentos e documentos do governo, o BNM transcreveu a seguinte passagem referente à tortura com o pau-de-arara:
“[…] O pau-de-arara consiste numa barra de ferro que é atravessada entre os punhos amarrados e a dobra do joelho, sendo o ‘conjunto’ colocado entre duas mesas, ficando o corpo do torturado pendurado a cerca de 20 ou 30 cm. do solo. Este método quase nunca é utilizado isoladamente, seus ‘complementos’ normais são eletrochoques, a palmatória e o afogamento[…]”.