Foto: Underwood & Underwood, London & New York, 1911.
Durante muitas dinastias na China, a prática conhecida como pés de Lótus pregou que os pés das meninas deveriam ser quebrados e enfaixados para evitar o crescimento.
O tamanho reduzido dos pés era uma forma de exibir status, já que as mulheres de famílias ricas tinham pés de Lótus e, portanto não podiam trabalhar.
A prática dos pés de Lótus também foi tomada como o símbolo máximo da beleza e erotismo na cultura chinesa. O comprimento ideal para os pés era chamado de “Golden Lotus” e media cerca de 7 cm. Para chegar a esse tamanho, os membros começavam a ser enfaixados quando as meninas ainda estavam em processo de crescimento, com a idade de 4 a 7 anos.

Foto: Pun Lun (China, 1870s – 1900s), provavelmente tirada em Hong Kong. Albúmen, carte-de-visite. Coleção © 2010 Dr Jocelyn Chatterton. ID: 26289
Um membro mais velho da família, do sexo feminino, realizava todo o procedimento de imergir os pés da criança em água morna ou sangue de animais com ervas, corte das unhas, massagens e, posteriormente, a quebra dos dedos e o embrulho dos pés em um pano. Era necessário que não fosse a mãe a realizar o processo, pois esta poderia se compadecer das dores e sofrimento da filha.
Após a primeira sessão, diariamente deveriam ser repetidos os mesmos cuidados a fim de alcançar o tamanho desejado. No meio do processo, que poderia durar anos, era comum o surgimento de infecções, mesmo se aparando regularmente as unhas dos pés. Exatamente por isso, muitas meninas tiveram suas unhas completamente arrancadas.

Raio X de um pé de Lótus tirado entre os anos 1890 – 1923. Foto: Library of Congress. ID: cph.3c04036
Ainda assim, as infecções podiam voltar, pois a circulação era cortada com a quebra dos dedos e dobramento desses para dentro do pé. Com a falta de circulação, havia a suscetibilidade da necrose do tecido e queda dos dedos, o que era considerado algo bom pelos praticantes do pés de Lótus, já que facilitava o manejo e enfaixamento. Porém a hipótese de infecção e choque séptico se tornavam ainda mais frequentes.
Por várias vezes os pés de Lótus foram proibidos na China. Em 1664, sob o governo do Imperador Manchu Kangxi, a prática foi abolida, mas por pouco tempo. No século XIX, reformadores chineses tentaram novamente a proibição, mas também sem sucesso, até que no século XX, com o surgimento de movimentos feministas pioneiros, houve novas tentativas de abolir os pé de Lótus. Entretanto, a prática só foi completamente proibida com o decreto do governo comunista ao tomar o poder no final dos anos 40. A proibição permanece até hoje.
O resultado da cultura dos pés de Lótus era devastador para as mulheres, pois acarretava uma série de dores, problemas nas costas e nos músculos. Muitas ficavam incapazes de andar e quando mais velhas, eram mais suscetíveis a quedas.
Comparação entre um pé normal e um pé de Lótus, ca. 1902. Foto: Library of Congress. ID: cph.3a49263