Rosália Lombardo: a “Bela Adormecida” de Palermo

Atual estado do corpo da menina Rosália Lombardo, falecida aos 2 anos de idade e embalsamada em Palermo, Itália, 1920.

Rosália Lombardo

Rosália Lombardo era uma menina italiana que morreu em decorrência de uma pneumonia em 6 de dezembro de 1920, aos 2 anos de idade. Seu pai pediu, na época, ao Dr. Alfredo Salafia (1869-1933), um reconhecido embalsamador para que a mantivesse preservada, pois detestava a ideia de nunca mais ver o rosto de sua filha amada. Apelidada de “A Bela Adormecida”, Rosália tornou-se um dos últimos corpos a ser admitidos na “Catacumbas dos Capuchinhos de Palermo”. Durante muito tempo seu processo de embalsamamento foi um mistério e mantido em segredo. Seu corpo, aparentemente, nunca entrou em decomposição, preservando seu rosto de criança.

Referências:
“Lost “Sleeping Beauty” Mummy Formula Found”. October 28, 2010. Retrieved April 24, 2011.
Vincent J. Musi (1995)

A prótese mais antiga do mundo

Em 2007, uma múmia datada entre 1000 e 600 a.C. foi encontrada com uma prótese, sendo considerada portanto, a prótese mais antiga.

A prótese mais antiga e a medicina no Egito Antigo

Após análises da região amputada, foi possível perceber que houve uma excelente cicatrização. A prótese do dedo, entretanto, foi usada muito mais como um artefato estético do que para fins corretivos, ainda que historiadores acreditassem que ela tenha auxiliado no ato de andar.

A medicina, juntamente com a prática de amputação e utilização de próteses, surgiu pela primeira vez entre os Sumérios e, posteriormente no Egito. Apesar de não deterem grande conhecimento do sistema circulatório e de músculos e tendões no corpo humano, os egípcios tinham um conhecimento avançado a respeito da organização interna dos órgãos e de procedimentos cirúrgicos.

Foi no Egito, ainda, a descoberta de que a prática frequente de banhos era essencial para a manutenção da saúde e diminuição de infecções. Porém eles erraram em outros aspectos, tais como receitar a utilização de excrementos para o tratamento de algumas doenças, como prescrito no papiro “Hearst”. Por conhecerem e terem iniciado as práticas médicas, os egípcios também foram exímios embalsamadores, tendo ficado famosos através das múmias bem preservadas encontradas, principalmente, no Vale dos Reis.

Referência:
PARKINS, Michael D.; J. Szekrenyes. “Pharmacological Practices of Ancient Egypt”. Faculty Of Medicine – The University Of Calgary, 2001.
O mistério da pequena múmia de San Pedro

O mistério da pequena múmia de San Pedro

Várias fotos conhecidas e raios-x tomados da múmia encontrada na Cordilheira San Pedro, WY.

Várias fotos conhecidas e raios-x tomados da múmia encontrada na Cordilheira San Pedro, WY. Fotomontagem de autor desconhecido.

Em 1932, enquanto garimpavam ouro no Condado de Carbon, Wyoming, Cecil Maune e Frank Carr encontraram algo que entraria para a lista de mistérios históricos: um pequena múmia.

A pequena múmia de San Pedro

Após usarem explosivos para abrir caminho em meio a uma montanha, acabaram se deparando com uma caverna, onde ao fundo estava guardada uma pequena múmia de 17 cm de altura. A figura mumificada lembrava um homem muito pequeno de olhos fechados e braços cruzados. Alguns anos mais tarde, a múmia acabaria nas mãos de um homem chamado Ivan Goodman. À época, Goodman transformou o achado em uma atração, cobrando alguns centavos para que as pessoas vissem o corpo do que seria o menor homem do mundo. A história já era conturbada e cheia de buracos, quando mais um empecilho ocorreu. Por volta da década de 1950, a múmia simplesmente desapareceu. Algumas pessoas que tiveram contato com o artefato histórico e com Goodman afirmaram que ele havia levado o achado para Nova Iorque e lá teria perdido numa aposta.

Anos mais tarde, George Gill, um antropólogo e físico da Universidade de Wyoming, tomou conhecimento da história da pequena múmia e resolveu analisar algumas fotos e radiografias que haviam sido tiradas na época em que fora encontrada. Ao contrário do que muitos sustentavam, o corpo embalsamado não era nem de um pigmeu, nem era de uma raça de seres humanos minúsculos, descritos em lendas indígenas do Wyoming.

Foto: Sturm Photo,  Wyoming/Western History Collection/Casper College Western History Center

Foto: Sturm Photo, Wyoming/Western History Collection/Casper College Western History Center

O fim do mistério?

Gill afirmou que o corpo era de uma criança que sofria de anencefalia — defeito que causa ou a ausência do cérebro, ou seu tamanho diminuto. Ainda assim, muitas pessoas que tomaram conhecimento da história e viram fotos, continuam acreditando que a múmia era de um ancião da raça dos seres pequenos. Para tentar acabar com o mistério, em 2005, John Adolfu de Syracuse ofereceu uma recompensa de 10 mil dólares para quem a encontrasse. Entretanto, até hoje a múmia permanece desaparecida e o mistério continua, restando apenas algumas imagens.

Um residente de Wyoming segurando a múmia em um dos dias em que serviu como atração.

Um residente de Wyoming segurando a múmia em um dos dias em que serviu como atração. Foto: David Memorial Collection, Casper College Western History Center.

Folheto sobre a nova atração da região.

Folheto sobre a nova atração da região. Foto de autor desconhecido.

Referências:
JEREMIATH, Ken. “Eternal Remains: World Mummificarion and the Beliefs that make ir Necessary“. First Edition Design Publishing, 2014.
HEIN, Rebecca. “The Pedro Mountain Mummy“. Wyoming State Historical Society.
The Mystery of the San Pedro Mountains Mummy“. Ancient Origins, 2014.
Os corpos defumados da tribo Kukukuku

Os corpos defumados da tribo Kukukuku

Pendurados na encosta de Menyamya estão os corpos mumificados e defumados dos guerreiros e líderes tribais de uma das tribos mais violentas da Papua Nova Guiné.

Múmias defumadas de líderes tribais da tribo Anga, em Aseki, província de Morobe, Papua-Nova Guiné. Foto: ULLA LOHMANN / National Geographic. ID: 1483582

Descobertos apenas na década de 1950, os corpos defumados da tribo Kukukuku atraem os olhares curiosos de vários turistas pelo mundo.

Menyamya, região montanhosa e remota da Papua Nova Guiné, atrai a curiosidade de alguns por ser palco de um costume diferente aos olhos da sociedade Ocidental. Aqueles que se arriscam a chegar até Menyamya, o fazem buscando conhecer os famosos corpos defumados de Aseki do povo Anga.

Dos penhascos de uma aldeia nas montanhas Morobe, os cadáveres carbonizados observam os transeuntes no pé da montanha.

Dos penhascos de uma aldeia nas montanhas Morobe, os cadáveres carbonizados observam os transeuntes no pé da montanha. Foto: Michael Thirnbeck/ Mangiwau, Getty Images

Quase como um cenário de terror, dos vãos da montanha surgem corpos avermelhados, pendurados em gaiolas e posicionados como se estivessem zelando pelas comunidades do pé da montanha. A tribo Anga, ou Kukukuku, é a responsável pelos rituais de enterro nas cavernas e encosta do monte Menyamya.

Conhecidos como um povo violento e temido em aldeias vizinhas, a cultura e prática dos Kukukuku ficaram desconhecidas por muitos anos, até que na década de 1950, Walter Eidam, um missionário que viveu com os Anga, revelou a prática dos corpos defumados.

Múmias são uma parte diária da cultura em Koke.

Os moradores da vila de Koke transportam Moimango, membro mumificado há mais de meio século, até seu nicho na falésia. Seu filho (agachado) espera ser mumificado um dia também. Foto: Ulla Lohmann/National Geographic.

Segundo a cultura, cada corpo é esfaqueado várias vezes para que todos os líquidos possam sair. Posteriormente, os órgãos são retirados pelo ânus e, então, o corpo é colocado acima de uma fogueira para defumar. A prática elimina toda a gordura e a fumaça serve como bactericida.

Atualmente a tribo não realiza mais esse tipo de enterro para todos da aldeia. Apenas os grandes guerreiros e pessoas importantes são enterrados nesse tido de ritual.

Referências:
– COCKBURN, Aidan. “Mummies, Disease & Ancient Cultures”. Cambridge University Press, 1998.
– MCKINNON, Rowan. Papua New Guinea and Solomon Islands. Lonely Planet.
Os corpos defumados da tribo Kukukuku

Sacrifícios humanos: O homem de Tollund

O homem de Tollundo foi encontrado em um pântano na Dinamarca e retrata como alguns sacrifícios eram realizados na era pré viking.

Foto: Sven Rosborn. Museu de Foteviken. Galeria de Sven Rosborn a respeito da pré-história da Dinamarca.

Extremamente bem preservada, trazendo ainda linhas de expressão e até resquícios de barbas, a múmia de Tollund é simplesmente incrível pelo grau de conservação, além de trazer mais uma vez para o debate e conhecimento uma das facetas humana mais curiosas: os rituais de sacrifício. O homem que ficou conhecido como “homem de Tollund” viveu na Escandinávia durante a Idade do Ferro e foi sacrificado há 2 mil anos.

Enterrado em um pântano na Dinamarca, a múmia foi encontrada apenas em 1950 e, devido às condições do local encontrado, onde há baixa oxigenação e muitos musgos, o corpo foi mumificado, ficando extremamente bem preservado; o que levou seus descobridores a suspeitar de uma vítima recente de assassinato.

Depois de alguns exames do professor de arqueologia, P. V. Glob, foi alegado que o corpo tinha mais de dois mil anos de idade e possivelmente fora utilizado como oferenda em um ritual de sacrifício, já que trazia consigo uma corda apertada — feita com peles de animais — ao redor do pescoço.

No meio acadêmico não há um consenso com relação a como os vikings e pré-vikings se relacionavam e lidavam com suas religiões e crenças mitológicas. Alguns escritos entre os séculos X e XIV descrevem algumas dessas interações entre religião e sociedade. De acordo com o clérigo alemão Adam de Bremen, no século XI, todos os deuses nórdicos e pagãos tinham seus próprios sacerdotes e a população oferecia sacrifício buscando obter determinados benefícios.

Rituais destinados ao deus Tor tinham relação com períodos de escassez, aqueles feitos para o deus Odin buscavam a vitória em alguma batalha e para Freyr buscavam a fecundidade. Ainda assim, não se sabe exatamente o motivo pelo qual, entre tais sacrifícios, estava a prática de jogar pessoas em pântanos, lagos e rios. A única certeza que se tem é que essas pessoas eram oferendas aos deuses e a prática provavelmente se iniciou entre o século V e o século I a.C.. O homem de Tollund seria um exemplar e resultado das práticas ritualísticas em nome de deuses.

Em 2002, novos estudos foram realizados e, observando que a língua da múmia estava inchada, bem como as vértebras cervicais muito danificadas, foi reforçada a tese de sacrifício, pois esses eram sinais que corroboravam com a suposição de enforcamento. Outro indício que também corroborou com tal hipótese, ao invés da execução — como castigo para um crime —, foi a descoberta de diferentes tipos de sementes no estômago do homem de Tollund.

Como não era algo comum a população ter uma alimentação diversificada àquela época, os cientistas concluíram que a última refeição do homem era um sinal dele estar participando de alguma ocasião especial, por exemplo, um ritual. A oferta de sacrifício para os deuses e as refeições subsequentes que todos participavam, poderiam representar tanto um reconhecimento do poder divino, bem como uma tentativa de alinhar a vida com a vontade divina.

Era um ato realizado na esperança de que os deuses respondessem favoravelmente a um pedido e se o tal ato não fosse bem sucedido, poderia haver grandes problemas para os povos adoradores. Alguns desses sacrifícios eram realizados através do enforcamento, posteriormente atirando-se o corpo a um pântano. As oferendas humanas normalmente eram de prisioneiros de guerras e batalhas, empregados ou criminosos.

Em tempos de crise, os membros das famílias mais nobres poderiam ser sacrificados para apaziguar Odin. Dessa forma, o Homem de Tollund é um achado arqueológico incrível por ser um dos exemplos mais bem preservados já encontrado na História e oriundo de rituais realizados pelos povos nórdicos para seus deuses, algo pouco documentado e que suscita muitas dúvidas nos pesquisadores atuais.

Referências:
-CAMPBELL, J. Graham. Os Vikings — Grandes Civilizações do Passado. Andromeda Oxford Limited. 2006.
-“Sacrifices”. Arizona State University. Acessado em: 05 jul. 2013.
-The Tollund Man – A Face from Prehistoric Denmark. Silkeborg Public Library.