por karonte | 05/05/2018 | Curiosidades, Esportes, Século XX
Imagem de uma partida de xadrez humano sendo disputada na Praça do Palácio, antiga Leningrado (atual São Petersburgo), em 1924.
Xadrez humano
No dia 20 de julho de 1924, durante a festa de Leningrado, o Exército Vermelho enfrentou a Marinha em um jogo de xadrez de proporção 1:1. Os marinheiros e fuzileiros navais estavam de preto e o Exército estava de branco no tabuleiro gigante, sendo cada lado liderado por Ilya Rabinovich e Peter Romanovsky, dois mestres de xadrez. O jogo durou cerca de 5 horas.
por | 10/05/2017 | Artes, Curiosidades, Música, Religião, Século XX, Século XXI

O Sufi Zikr é um ritual de dança religiosa hipnotizante. Dezenas de homens formam vários círculos. (ASSISTA AO VÍDEO NO FINAL DA PÁGINA)
Em formação circular, vários homens se movimentam de acordo com a cadência do canto. As fileiras humanas, dispostas em formato de anéis, entram umas dentro das outras. A batida dos pés, o modo de balançar o corpo e o grunhido emanado da garganta enchem o ambiente com um som rudimentar. Uma voz se sobrepõe sobre todas as outras, entoando sons em reverência a Alá. Este é o ritual zikr sufi, dança mística do Cáucaso, na região da Chechênia, onde o Islamismo é predominante.
O ritual de dança Zikr Sufi
No ritual zikr sufi, os homens andam para ambos os lados, inicialmente em marcha lenta e, em seguida, aceleram os passos. Com o aumento da velocidade, os círculos se fundem, formando uma bola giratória hipnotizante. O piso treme e faz muito barulho. Dezenas de homens participam do ritual, sendo a maioria jovens. Muitos estão em transe. Alguns deles, exaustos, se afastam enquanto outros os substituem. O zikr possui várias formas e a sua origem é creditada a Kunta Haji Kishiyev, pastor que viajou para Oriente Médio no século XIX e depois retornou à Chechênia, onde encontrou convertidos ao sufismo. Inicialmente comprometidos com a paz, muitos dos seus seguidores com o tempo se juntaram à resistência contra a dominação russa. Tornaram-se um povo repleto de tradicionalismo e espírito rebelde.
Em 1991, quando a Chechênia declarou independência da Rússia, as irmandades Kunta-Haji juntaram-se as armas com determinação. Sebastian Smith, autor de “Allah’s Mountains: Politics and War in the Russian Caucasus”, escreveu que durante uma cerimônia zikr sufi, um bombardeio russo sobrevoou o vilarejo em baixa altitude, emitindo um som ensurdecedor. Segundo Smith, ninguém sequer olhou para cima e o estado de transe só aumentou.
A volta da tradição religiosa muçulmana na Chechênia
A Chechênia, que por muitos anos sofreu com uma guerra travada contra a Rússia ocasionada pelo colapso da União Soviética, viu com o armistício suas formas tradicionais de expressão religiosa retornarem a vida pública. Durante a década de 1990, Moscou, preocupado com as tradições sufi locais, atacou grupos de muçulmanos sunitas em território checheno, vez que esses grupos salafistas eram defensores de uma interpretação árabe do Islã frequentemente acusada de encorajar ataques terroristas.
Com o apoio de Vladimir Putin, Ramzan Kadyrov Akhmadovich, um ex-rebelde checheno, se tornou o presidente da Chechênia. Com a ascensão de Kadyrov ao poder, as irmandades sufis deixaram de ser reprimidas e voltaram a reivindicar um lugar na vida pública. Os rituais zikr, antes eram considerados como um símbolo de agressão, vez que pela visão do Kremlin, a dança significava o transe dos rebeldes, o ritual dos indomáveis. Kadyrov disse em uma entrevista que esperava ajudar a restaurar tradições sufis, como parte de uma forma de preservar a cultura chechena.
Ainda não se sabe se o espírito rebelde sufi irá despontar novamente algum dia. Enquanto isso, a dança continua com a aprovação do Estado.
[VÍDEO] Sufi Zikr: o hipnotizante ritual religioso de dança
[su_youtube_advanced url=”https://www.youtube.com/watch?v=tp6s7krBbyw” width=”800″ height=”600″ rel=”no” fs=”no”]
Referências:
This is a zikr, the mystical Sufi dance of the Caucasus, and a ritual near the center of Chechen Islam.
Revival of Sufi ritual in Chechnya. By C.J. CHIVERSMAY 23, 2006.
por | 26/11/2014 | Atualidades, Guerras, Século XXI

TV estatal da Geórgia transmitiu falsa notícia sobre uma nova invasão de tropas russas ao país.
As feridas da guerra entre a Rússia e sua ex-colônia soviética Geórgia estão abertas desde 2008, quando um conflito de apenas cinco dias deixou quase 1000 mortos, incluindo civis (fontes alternativas contabilizam mais de 3.000 mortos durante os combates), e mais de 100.000 refugiados. Na época, o Exército Vermelho chegou a posicionar suas tropas à apenas 50km de Tbilisi, capital georgiana.
A “Guerra de Mentira” entre Rússia e Geórgia
O canal estatal ImediTV transmitiu ao vivo no sábado, dia 13.03.2010 às 20:00 horas, um comunicado de urgência informando que o país estava sendo novamente invadido pelos russos, informando ainda que o presidente Mikhail Saakashvili estava morto e que líderes opositores apoiavam o ataque. Para dar mais “veracidade” a notícia, imagens do conflito de 2008 eram retransmitidas sob a alcunha de serem recentes. Não precisou de mais nada para instaurar o pânico geral no país. O comunicado coincidiu com o fato das linhas telefônicas estarem cortadas no momento da exibição das imagens da falsa guerra, dando início ao desespero em uma nação que há menos de 18 meses já havia perdido centenas de militares para uma guerra sem causa. Vários hospitais afirmaram ter recebido inúmeras ligações com queixas de infartes, palpitações e outros problemas de saúde provocados em decorrência do falso comunicado de guerra.
Felizmente, com a ajuda de correspondentes da BBC, a situação foi resolvida a tempo. A infeliz tentativa de imitar Orson Welles foi “cumprida em partes”. Em 1938, Orson Welles produziu uma transmissão radiofônica intitulada “A Guerra dos Mundos”, que ficou famosa mundialmente por provocar pânico nos ouvintes, vez que imaginavam estar enfrentando uma invasão de extraterrestres. Um exército que ninguém via, mas que de acordo com a dramatização radiofônica, em tom jornalístico, acabara de desembarcar no nosso planeta. A diferença foi que uma guerra entre humanos e extraterrestres era algo inexistente, ao contrário de uma guerra entre Rússia e Geórgia, que era real e já havia ocorrido.
Referências
Bogus TV report of Russian invasion panics Georgia. BBC News.
Imedi Tv e la “Fake War” in Georgia – La tv che riprende Welles. TVBlog
por | 26/07/2014 | Genocídios, Guerras, Século XX, Segunda Guerra Mundial

Soviéticos procuram por seus parentes no local do massacre nazista perto de Kerch, na Crimeia. Foto tirada por Dmitri Baltermants em janeiro de 1942.
Com a quebra do pacto Ribbentrop-Molotov (pacto de não-agressão) durante a Segunda Guerra Mundial, deu-se início à operação Barbarossa, codinome da maior campanha militar da história em termos de mobilização de tropas e baixas sofridas.
O início das perdas pelos soviéticos
Na madrugada do dia 22 de junho de 1941, mais de três milhões de soldados alemães cruzaram a fronteira soviética. O avanço alemão em território russo foi rápido e avassalador. Em poucos dias, a Força Aérea Russa havia sido praticamente dizimada (a maioria dos aviões foram destruídos ainda em solo) e os blindados soviéticos em formação dispersa não foram páreos para a formação Blitzkrieg alemã. Em pouco tempo a Operação Barbarossa tornou-se uma questão de sobrevivência para os soviéticos. Nenhum país, nenhum povo, lutou tanto quanto a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Em nenhum outro lugar as memórias da guerra permaneceram tão vivas e tão profundas. A invasão alemã trouxe uma tal catástrofe, que parecia, a princípio, que nenhuma nação suportaria.
Tão somente no cerco a Leningrado, que durou mais de dois anos, morreram mais seres humanos do que britânicos e americanos durante toda a guerra. O povo russo enfrentou a possibilidade da morte… e a venceu. Contudo, apesar de estarem acostumados à inúmeras perdas durante toda guerra, os soviéticos não fingiam estar imunes à dor. Dezenas de milhares de pessoas conheciam este poema de cor:
Espera por mim, e regressarei,
Mas espera muito.
Espera até se encheres de pena
Enquanto vês a chuva amarela.
Espera até os ventos
Varrerem as neves.
Espera no calor sufocante.
Espera até os outros desistirem
Quando esquecerem o Ontem.
Espera mesmo que não cheguem
Cartas de longe para você.
Espera mesmo quando os outros
Estiverem cansados de esperar.
Espera mesmo quando a minha mãe
E o meu filho pensarem que morri.
E quando os amigos se sentarem
Bebendo em minha memória.
Espera, e não se apresses a beber
Em minha memória também.
Espera, pois regressarei,
Desafiando cada morte.
E deixa aqueles que não esperaram
Dizer que tive sorte.
Eles nunca compreenderão
Que, no meio da morte,
Você, e a sua espera,
Me salvaram.
Apenas você e eu saberemos
Como sobrevivi.
Foi porque você esperou por mim
Como mais ninguém o fez.”
Outro poema russo dizia o seguinte:
Não me chames, pai.
Não me procures.
Não me chames
Nem desejes o meu regresso.
Estamos num caminho desconhecido
O fogo e o sangue apagaram a rota.
Voamos, nas asas dos relâmpagos,
Para não mais desembainhar a espada.
Todos nós tombamos em batalha,
Para não mais voltarmos.
Haverá um reencontro?
Não sei.
Sei apenas que devemos
Continuar a lutar.
Somos grãos de areia no infinito
E nunca mais veremos a luz.
Adeus, meu filho,
Adeus, minha consciência.
Minha juventude e meu consolo,
Meu único filho.
Que esta despedida seja o fim
Da vasta solidão,
Pois não há ninguém mais só.
Lá permanecerás
Para todo o sempre
Longe da luz e do ar.
A tua morte não será contada.
Não contada e não atenuada a morte,
Para não mais ressuscitar,
Para todo o sempre
Um rapaz de 18 anos.
Adeus, então.
Nenhum comboio chega dessa região
Com ou sem horário,
Nenhum avião pode aí chegar.
Adeus, meu filho,
Pois milagres não acontecem.
E, neste mundo,
Os sonhos não se realizam.
Adeus.
Sonharei contigo
Quando eras bebê,
Caminhando pela terra
Com passos fortes.
Pela terra onde já tantos
Estavam enterrados.
Esta canção, meu filho,
Chegou ao fim.”
A Rússia foi salva, pelos soldados e pelo povo. Mas na terra, sem chegarem a ver a paz, jaziam 20 milhões de mortos.
Referências:
Baseado e adaptado do documentário World at War (O Mundo em Guerra), produzido pela BBC em 1973.
por | 17/07/2014 | Curiosidades, Personalidades, Política, Século XX

Os Romanov, última família real da Rússia. Foto: Hoover Institution / Stanford University
A família Romanov foi a última dinastia imperial que a Rússia teve. Ela governou o Império Russo por quase três séculos, de 1613 a 1917, quando a última família foi assassinada nos porões de uma casa em Ekaterinburgo, na Sibéria, em 17 de julho de 1918.
Os membros mais célebres, e que entraram definitivamente para a História, da dinastia Romanov eram o Czar Nicolau II, a czarina Alexandra Hesse-Darmstadt e seus cinco filhos, Olga (1895 – 1918), Tatiana (1897 – 1918), Maria (1899 – 1918), Anastasia (1901 – 1918) e o czarevich — herdeiro do trono na sucessão real — Alexei (1904 – 1918). Os filhos eram famosos não somente por pertencerem à nobreza, mas também por possuírem notável beleza.
Durante a primeira década do século XX, a Rússia passava por problemas sociais e financeiros. Após sua passagem frustrada, com consequente derrota, pela Guerra Russo-Japonesa e pela Primeira Guerra Mundial, a população russa se viu cada vez mais miserável; trabalhava-se muito e ganhava-se pouco. Cerca de 80% da população era composta por pessoas que viviam no campo e quase 90% não sabia ler nem escrever, com a massa sendo controlada pelos governos locais.
Ainda assim, a industrialização começou a se desenvolver no império. Ainda que de forma tardia em relação à maioria dos países da Europa, a industrialização russa criou uma classe operária, extremamente explorada, que crescia progressivamente e com uma capacidade de organização e reivindicação de suas aspirações, que eram maiores do que àquelas dos camponeses.

Tatiana, Olga, Maria e Anastasia, da esquerda para a direita. Foto de autor desconhecido
Exatamente pela condição de vida miserável tanto no campo, quanto nas cidades, juntamente com episódios que demonstravam erros na condução da política, o governo (1894 – 1917) do Czar Nicolau II desagradou o povo que buscava uma liderança mais presente, menos opressiva e menos autocrática.
É nesse período que as ideologias socialistas começam a ganhar cada vez mais força dentro do império. Com o sentimento de revolta fortalecido contra a aristocracia russa, é criado, então, o Partido Operário Social-Democrata Russo que levaria a cabo a Revolução de 1917.
Com o Czar distante do poder em 1915, quando se ausentou para integrar o front durante a Primeira Guerra Mundial, a imperatriz Alexandra assumiu. Em meio a esse cenário, a população viu somado ao seu descontentamento a ascensão da influência de Rasputin, protegido da família imperial que acreditava ser possível a cura da hemofilia de Alexei pelo curandeiro.
Na primavera de 1917, a Rússia se encontrava à beira de um colapso político, quando estourou a Revolução Russa. Em 15 de março, o czar Nicolau II abdicou do trono em favor de seu irmão, o Grão-Duque Mikhail, que negou subir ao poder.
Finalmente em 3 de abril, a Assembleia Constituinte instaurou um governo provisório, liderado por Alexander Kerensky.Sete meses depois, Kerensky foi deposto pelos Bolcheviques liderados por Vladimir Lênin e, com isso, o destino da família Romanov foi selado.
Os Romanov foram encaminhados para a “Casa de Propósitos Especiais” em Ekaterinburgo, na Sibéria, pelos bolcheviques de Lênin e no dia 17 de julho de 1918, a família inteira foi reunida no porão da casa.Lá, os Romanov foram mortos por um batalhão de 12 soldados bolcheviques liderados por Yakov Yurovski (1878 – 1928), chefe da Tcheca local. O tiroteio de três minutos foi tão violento que a parede atrás dos condenados ficou repleta de buracos de balas.

Porão onde a família foi executada em Ekaterinburg, Sibéria. 17 de julho de 1918. Foto de autor desconhecido
Após aquele dia, o paradeiro dos corpos ficaria desconhecido por quase 60 anos. Em 1991, os restos de Nicolau II, Alexandra, três dos cinco filhos e quatro criados foram exumados (o paradeiro dos corpos já era sabido desde 1976, porém a exumação correu somente em 1991).
Após testes de DNA, chegou-se à conclusão de que os restos mortais se tratavam da família imperial assassinada sumariamente na noite de 17 de julho de 1918.
Pelo fato de dois corpos não estarem no meio dos encontrados, os rumores de que dois dos filhos haviam se salvado ganhou ainda mais força. Por anos, acreditou-se que Alexei e Anastásia haviam sido poupados do tiroteio.
Em 2007, entretanto, um arqueólogo anunciou a descoberta de mais dois corpos na região próxima à primeira descoberta. Os fragmentos de ossos demonstraram, através de análises, serem de um menino na idade entre 10 e 13 anos e de uma jovem entre 18 e 23 anos.
Em 30 de abril de 2008, os cientistas forenses russos anunciaram que os testes de DNA apontaram que os corpos eram mesmo do Czarevich Alexei e de uma de suas irmãs. Um dos maiores mistérios do século XX finalmente havia sido solucionado, dando um ponto final nas histórias de sobrevivência de dois membros da família Romanov.
Referências: