
Túmulos com grades de proteção, típicos da Era Vitoriana
Ainda que atualmente em desuso ou associados popularmente à proteção contra fantasias de terror como vampiros ou zumbis, os túmulos com grades ou protegidos por outros artifícios foram largamente utilizados ao longo dos séculos XVIII e XIX na Europa.
Os motivos eram certamente mais materiais: tratava-se de uma forma de proteção utilizada contra os “Resurrectionists” ou, na linguagem popular, ladrões de túmulos. O termo “Resurrectionists”, segundo Shultz ¹, surgiu da ideia de que o solo dos cemitérios seria sagrado e a remoção de um corpo do “Jardim de Deus” era considerada como uma interferência humana direta nos planos divinos da Ressurreição.
A imagem acima mostra a utilização de túmulos com grades de ferro que foram inventados em 1816, justamente como meio de combater esse problema. Outras precauções eram igualmente tomadas para este fim: a utilização de caixões de ferro, a construção de torres de vigilância no meio do cemitério, o uso de pedras e tábuas pesadas para tampar as covas, assim como a vigilância constante dos túmulos por um parente do morto.

Após o fim da prática de roubo de cadáveres, os túmulos com grades caíram em desuso.
Havia igualmente outro componente que tornava essas medidas comuns e necessárias nos cemitérios europeus: apenas a partir de 1832 que, em alguns países, as Escolas de Medicina foram proibidas de retirarem corpos dos cemitérios para aulas de dissecação e palestras de auditório, prática comumente usada por estas ao longo do século anterior. A prática era tão comum que não somente era tida como um mal necessário, como também o roubo de cadáveres não era considerado crime: o único ato que poderia ser punido por quem dela fazia uso estava relacionado ao roubo de joias e objetos pessoais do morto. Exatamente por isso, quando os ladrões de corpos entravam em ação, tomavam o máximo de cuidado para nenhum pertence do defunto ser levado.
Ainda que não fosse então considerado crime, o roubo de corpos levou muitas pessoas a criarem os métodos já citados de proteção do túmulo de seus entes queridos, sendo ainda possível nos dias atuais contemplar vestígios do uso de alguns desses em cemitérios centenários europeus.
Não obstante, à época, os Resurrectionists se aperfeiçoaram nas técnicas de subtração de cadáver: para burlar as grades de ferro, por exemplo, cavavam na diagonal, em direção à “cabeça” do caixão; ao atingi-lo, quebravam facilmente a madeira, amarravam uma corda ao redor do corpo e puxavam-no para a superfície. Outra forma utilizada se encontrava na técnica de remoção das lápides para cavar na vertical até atingir o caixão: após a retirada do cadáver, colocavam a lápide no lugar, sem que ninguém pudesse, posteriormente, perceber qualquer movimentação de terra ou grama do local.

Ainda que essa fosse uma prática comum, nem todos os túmulos da época possuíam grades de proteção.
A popularização do uso destas práticas de proteção, bem como do roubo de corpos aumentou significativamente ao longo das primeiras décadas do século XIX: ao longo do século XVIII, normalmente os cadáveres usados como objetos de estudo nas Escolas de Medicina eram oriundos de indivíduos condenados à pena capital. Com as progressivas reformas penais que se passaram em diversos países europeus a partir do século XIX, se verificou uma sensível redução no uso da pena de morte contra criminosos, deixando estas Escolas em situação de carência de cadáveres para servirem de objeto de estudo. Diante deste cenário, a contratação de “Ressurrectionists” tornou-se habitual entre as Universidades europeias: igualmente influenciou a expansão do número de alunos e instituições que ofereciam o curso em seus currículos.
Apesar de todos os cuidados tomados pelos familiares para dirimir o roubo de corpos, a prática somente veio a ser combatida efetivamente a partir da lei de 1832: na mesma, o parlamento inglês, em discussão sobre o tema, autorizou que Universidades e Escolas fizessem uso dos cadáveres de indigentes para seus estudos e pesquisas.