Na manhã do dia 8 de abril de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o navio de guerra britânico HMS Glowworm, liderado pelo Tenente-Comandante Gerard Roope, estava em seu caminho para reagrupar-se com a esquadra Aliada, quando sob a névoa do Mar da Noruega, avistou e atacou os destróieres alemães Z11 Bernd von Arnim e Z18 Hans Lüdemann. O ataque avariou uma das embarcações alemãs, fazendo com que as mesmas sinalizassem ajuda e recuassem para o norte.
O prosseguimento da batalha entre o HMS Glowworm e o Admiral Hipper
Dando prosseguimento a perseguição, o HMS Glowworm, navio de 1.345 toneladas, se deparou com o cruzador pesado alemão Admiral Hipper, que pesava 14.000 toneladas e era três vezes maior em tamanho, além de ser mais fortemente armado. Sem hesitar, o HMS Glowworm abriu fogo contra o navio alemão, conseguindo avaria-lo parcialmente. Já no final da dramática batalha, antes de ser golpeado fatalmente e afundado, o navio da Marinha Real se chocou contra a lateral do Admiral Hipper, fazendo com que um marinheiro alemão fosse derrubado no mar durante a colisão. Dos 149 tripulantes do HMS Glowworm, apenas um oficial e 30 marinheiros sobreviveram a batalha naval e ficaram à deriva no mar. Mesmo correndo o risco de ficar exposto a ataques de possíveis navios Aliados próximos, o capitão do Admiral Hipper, Hellmuth Heye, ordenou que todos os sobreviventes fossem resgatados.
O tenente-comandante Gerard Roope foi visto ajudando os sobreviventes a colocarem seus coletes salva-vidas, contudo, durante o resgate, Roope não conseguiu segurar uma corda lançada do Hipper e morreu afogado. Todos os sobreviventes levados a bordo foram recebidos como iguais pelos alemães e os feridos britânicos receberam o mesmo tratamento dispensado aos feridos alemães. Heye ainda foi ao encontro dos sobreviventes e enalteceu a bravura demonstrada em combate pelos marinheiros britânicos.
O capitão alemão Helmut Heye ainda escreveu às autoridades britânicas por meio da Cruz Vermelha, recomendando a atribuição da Cruz Vitória (Victory Cross) ao tenente Gerard Roope, pela coragem do seu oponente ao enfrentar um navio de guerra muito superior. Foi a única vez na história em que a Victory Cross foi recomendada por um inimigo.
Rope foi a primeira pessoa a ser condecorada com a Cruz Vitoria na Segunda Guerra Mundial. O prêmio foi concedido postumamente em Londres no dia 10 de julho de 1945, sendo entregue em 12 de fevereiro de 1946, em uma cerimônia realizada no Palácio de Buckingham, ocasião em que o Rei George VI entregou a medalha a viúva de Roope, que estava acompanhada de seu filho, Michael, que na época servia como cadete da Marinha Real.
Hellmuth Heye continuou combatendo na Segunda Guerra Mundial, e dentre várias outras honras militares, recebeu no dia 18 de janeiro de 1941, a Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, a mais alta condecoração concedida pela Alemanha para reconhecer atos a bravura em combate ou lideranças bem-sucedidas e decisivas. Ainda em 1941, Heye foi promovido a vice-almirante e em 1942 comandou as forças navais alemães no Mar Negro. No final dos conflitos, comandou frotas de pequenas embarcações. Hellmuth Heye sobreviveu a guerra e faleceu no dia 10 de novembro de 1970, aos 75 anos.