
Na foto há diversas crianças que foram abandonadas na roda dos expostos (enjeitados), no “Asylo dos Expostos”. Foto retirada da Revista A Cigarra, Ano VI, nº 121, de 1º de outubro de 1919.
Não é de hoje que crianças são abandonadas, porém até o século XIX o termo “criança abandonada” não existia, elas eram conhecidas como “enjeitadas” ou “expostas”.
O abandono infantil persegue a humanidade desde tempos remotos, porém foi somente na Idade Média que a situação começou a ser tratada com mais seriedade. Naquela época a Europa havia passado por diversos períodos de fome, pobreza e sucumbiu à Peste Negra entre os séculos XIII e XIV.
Tais fatores levaram a população a abandonar seus filhos nas ruas e, em algumas situações, até a cometer infanticídios (homicídio do filho pela própria mãe durante seu estado puerperal). Esse estado de calamidade forçou a Igreja e as monarquias a criarem práticas de assistências às crianças expostas. Dessa forma, no século XIII foi iniciado o recolhimento de crianças abandonadas e estas foram entregues às Casas de Misericórdia, onde ficavam também os doentes, mendigos e loucos.
Juntamente ao recolhimento das crianças, a Igreja criou a contraditória roda dos enjeitados ou expostos. Elas eram instaladas nos muros das Casas de Misericórdia e conventos para o recebimento de recém-nascidos abandonados. Após a criança ser colocada numa porta giratória, a pessoa que estava entregando o bebê girava a roda e puxava uma corda com um sino para avisar que uma criança acabara de ser abandonada.
A prática, então, se espalhou pela Europa e chegou ao Brasil com a colonização. A quantidade de crianças deixadas sozinhas nas ruas de Salvador fez com que fosse feito um pedido junto ao vice-rei para a instalação de uma roda dos enjeitados aqui em solo nacional. Dessa forma, em 1726 o Brasil recebeu sua primeira roda. A partir daí, as rodas foram largamente utilizadas na colônia até que em 1950, com a prática já em declínio, a última roda dos enjeitados— instalada em São Paulo — foi desativada.
A pobreza era o principal motivo para o abandono das crianças, como é possível ver em bilhetes e cartas deixadas junto aos bebês, por exemplo:
Pelas chagas de Cristo
Lhe peço guardarem este papel
Junto com meu filho que, eu, se deus
Me der vida e saúde, daqui alguns meses darei
O que eu puder para encontrar meu filho.
Peço não o darem sem que levem uma carta
igual a esta e o retrato também
Se morrermos sem nos vermos mais, que Deus nos junte nos Céus
Adeus Meu Filho pede a Deus por mim, Adeus.” — Tradução: Maria Nazarete de Barros Andrade – Coordenadora do Museu e Capela da Santa Casa de Misericórdia de SP