por karonte | 17/07/2018 | Brasil, Curiosidades, Personalidades, Século XX
No dia 23 de outubro de 1906, Santos Dummont alçou voo pela primeira vez com seu avião, o 14 Bis. Desta forma, entrou para história ao fazer do 14 bis o primeiro objeto mais pesado que o ar a voar sem a ajuda de impulsos externos.
O primeiro voo ocorreu nos campos de Bagatelle, em Paris, fazendo com que o imenso público que ali estava ficasse boquiaberto. O episódio foi amplamente divulgado, com grande admiração em todo o mundo. As fotografias tiradas no dia serviram de registro para que todos os jornais acreditassem na façanha realizada pelo brasileiro.
por karonte | 06/05/2018 | Arquitetura, Brasil, Personalidades
O respeitado arquiteto Oscar Niemeyer observa a maquete do Palácio do Planalto, durante a construção da cidade de Brasília.
Fotografia: Arquivo Público do Distrito Federal, ArPDF.
por | 12/08/2017 | Brasil, Criminosos, Imagens Históricas, Século XIX
Após anos de cartazes descrevendo apenas as características de fugitivos e presos, a fotografia foi introduzida no Brasil como controle do estado na Casa de Correção pelo estudioso em craniologia, Almeida Valle. Em 1872, Valle dera conta de fotografar todos os prisioneiros da Casa de Correção, unindo os trezentos e vinte e quatro retratos em um álbum que ficou conhecido como “Galeria dos Condenados” (exposto ao público na Exposição Universal da Philadelphia, de 1876, sob os auspícios de Pedro II, amante da fotografia), o primeiro registro prisional no país. Na Galeria dos Condenados encontra-se o registro de Isabel Jacintha da Silva, escrava altiva e bela.
Isabel Jacintha da Silva
Condenada em 1846 por matar seu senhor (Jacintho José da Silva) envenenado, Isabel iniciou uma busca por seus direitos, alegando inocência. O envenenamento dos senhores pelos escravos era prática relativamente comum, uma vez que a liberdade lhes era dada por testamento. Dessa forma, após a morte do senhor, os escravos estariam livres. Assim, a prática de envenenamento acabou recebendo um artigo próprio no Código Criminal do Império:
“Ter o delinquente cometido o crime com veneno, incêndio ou inundação” (Código Criminal, Art. 16, 1830)
No caso de Isabel, ao que tudo indica, mantinha relações cordiais com seu senhor, pois portava seu sobrenome e faria jus à liberdade, como se livre tivesse sido desde o nascimento, tão logo seu proprietário viesse a falecer, fato que constituiu argumento decisivo para a formação de sua culpa. Em sua defesa, entretanto, alegou:
“Que meu irmão me catucara que eu dissesse que tinha sido eu; eu fui e caí na asneira, na patetice de dizer que era eu; mas não fiz nada do que disse. Depois caí em mim, pus-me a imaginar. Eu não saía de casa, como é que havia de fazer isso?”
Isabel não foi condenada à pena de morte, mas sua pena foi de prisão perpétua com trabalho. O mesmo crime de homicídio, supostamente por ela cometido, com auxílio de seu irmão, era punido com pena de 12 anos de prisão e multa proporcional, para os demais criminosos, ou seja, os homens e mulheres livres. A Galeria dos Condenados expõe inúmeros casos como esse. Ainda que condenada, Isabel foi notável em suas tentativas de graça, alegando inocência em todos os tribunais, se utilizando de argumentos e provas de que era, de fato, inocente.
No mencionado álbum, encontramos apenas duas mulheres entre as 324 fotografias: Isabel Jacintha e Generosa Maria de Jesus. A primeira, escrava, a segunda, livre. O álbum, em duas versões, pertence ao acervo da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, Coleção Dona Theresa Cristina.
Referências:
THIESEN, Icléia. A Casa de Correção da Corte e a fotografia identificatória (1859-1876). R. IHGB, Rio de Janeiro, 167 (430): 179-198, jan./mar. 2006.
KOSSOY, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 – 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012. p. 81.
THIESEN, Icléia. Informação identificatória, memória institucional e conhecimento – Isabel Jacintha da Silva, de cativa à prisioneira na Casa de Correção da Corte. LERASS – Laboratoire d’Études et de Recherches Appliquées en Sciences Sociales.
por | 11/08/2017 | Brasil, Imagens Históricas, Personalidades, Século XX

João Cândido lê o decreto da Anistia que deu fim ao episódio conhecido como “Revolta da Chibata”, em 1910.
Um dia após a Proclamação da República (1889) ficara estabelecido que castigos físicos deveriam ser abolidos da Marinha do Brasil. Contudo, a decisão foi suspensa um ano depois através de um decreto publicado no Diário Oficial, em que estava previsto:
“Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo.”
A Revolta da Chibata
O retorno a práticas degradantes como castigo incomodou os marinheiros, em sua maioria negros e mulatos, pois remontava à época da escravidão, abolida em 1888. As faltas mais graves eram punidas com até 25 chibatadas e, ainda por cima, existia o uso do “bolo”, prática abusiva que consistia em bater com a palmatória nas mãos estendidas dos marujos, dentre outros castigos corporais. Os abusos tornaram-se cada vez mais frequentes, levando João Cândido Felisberto, filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto, conhecido como “Almirante Negro”, a criar um Comitê para a organização de uma revolta contra o código disciplinar. Por dois anos a revolta foi organizada, até que em 1910, após o marinheiro Marcelino Rodrigues ter sido castigado com 250 chibatadas, a revolta estourou em 22 de novembro.
Os termos da Revolta da Chibata, como ficou conhecida, eram claros: ou o governo abolia as práticas degradantes e abusivas, ou os encouraçados São Paulo e Minas Geraes (nas fontes modernas, “Minas Gerais”), atracados na Baía de Guanabara, bombardeariam o Rio de Janeiro, à época capital federal:
“Não queremos a volta da chibata. Isso pedimos ao presidente da República e ao ministro da Marinha. Queremos a resposta já e já. Caso não a tenhamos, bombardearemos as cidades e os navios que não se revoltarem.” (Carta de João Cândido, porém escrita por outro marinheiro)
Após 5 dias de pressão, o presidente Marechal Hermes da Fonseca aceitou o ultimato dos revoltosos, abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Contudo, dois dias após a entrega das armas, foi emitido um novo decreto declarando que seriam expulsos da Marinha elementos inconvenientes à disciplina. No dia 2 de dezembro, 16 marinheiros sofreram tal punição.
A reviravolta nas decisões políticas ocasionou uma segunda revolta, fortemente reprimida com prisões e mortes. João Cândido foi internado como louco no Hospital de Alienados, porém foi absolvido dois anos depois.
Referências:
Foto: Augusto Malta, Rio de Janeiro, 1910, Acervo Fundação Biblioteca Nacional.
MAESTRI, Mário. 1910: a revolta dos Marinheiros. Uma saga negra. 3 ed. São Paulo: Global, 1982
KOSSOY, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 – 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012. p. 18.
por | 22/06/2017 | Atualidades, Brasil, Personalidades, Século XX
José Datrino, mais conhecido como Profeta Gentileza, abandonou o “mundo material” e dedicou sua vida ao mundo espiritual, obstinado a espalhar gestos de graciosidade consigo. O “Profeta Gentileza” “José Agradecido” foi uma personalidade urbana do Rio de Janeiro, notoriamente conhecido por suas dezenas de inscrições peculiares sob um viaduto situado na Avenida Brasil, na zona portuária, onde andava com uma túnica branca e longa barba. Uma de suas filosofias de vida mais conhecidas, “Gentileza Gera Gentileza”, até se tornou inspiração para a criação de uma ONG em Mirandópolis/SP fundada amigos e parentes que admiravam a filosofia do profeta.
O Profeta Gentileza
Durante a infância árdua, lidava diretamente com animais e a terra para ajudar a família. O trabalho no campo o ensinou a amansar burros para o transporte de carga. Tempos depois, já como Profeta Gentileza, se dizia “amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento”. Por volta dos treze anos de idade, passou a ter premonições sobre sua missão na terra, na qual acreditava que um dia, depois de constituir família, deixaria tudo em prol de sua missão. Tal comportamento atípico causou preocupação em seus pais, que chegaram a suspeitar que o filho sofria de algum tipo de loucura, chegando a buscar ajuda em curandeiros espirituais.
No dia 17 de dezembro de 1961, ocorreu a Tragédia do Gran Circus Norte-Americano, considerada uma das maiores fatalidades em todo o mundo circense. Neste incêndio morreram mais de 500 pessoas, sendo a maioria crianças. Na antevéspera do Natal, seis dias após o acontecimento, José acordou alegando ter ouvido “vozes astrais” que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual. O profeta pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio e plantou uma horta sobre as cinzas do circo em Niterói, onde por lá ficou por quatro anos e disseminou o sentido das palavras Agradecido e Gentileza. José Datrino se tornou um consolador voluntário, confortando familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se chamar “José Agradecido”, ou “Profeta Gentileza”
Após deixar o local que foi denominado “Paraíso Gentileza”, começou a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970 era visto em ruas do Rio de Janeiro fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Em 29 de maio de 1996, aos 79 anos, faleceu em Mirandópolis, cidade de seus familiares, onde foi sepultado. Com o decorrer dos anos, os murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo e mais tarde foram pintados com tinta de cor cinza pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. A eliminação das inscrições foi criticada e posteriormente, a cidade do Rio de Janeiro ajudou a organizar o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar os murais das pilastras, que ela própria havia destruído antes. Em 2001, foi homenageado pela Escola de Samba GRES Acadêmicos do Grande Rio.
Referências:
50 Anos do Incêndio Circo. Terra.
Guelman, Leonardo. Brasil Tempo de Gentileza.
Guelman, Leonardo. O missionário saltimbanco, Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro.