1° de maio: Dia Internacional dos Trabalhadores

1° de maio: Dia Internacional dos Trabalhadores

Foto que mostra as condições de trabalho no final do século XIX nos EUA. Foto de autor desconhecido.

Em 1887, o New York Bureau of Labor Statistic escreveu em uma publicação: “O ano de 1886 será lembrado para sempre como um dos mais importantes da batalha entre o capital e o trabalho nos Estados Unidos”. O dia 1° de maio de 1886 seria lembrado por mais de um século como o Dia Internacional dos Trabalhadores.

Ao longo da História, diversos países resguardaram dias específicos para celebrar a classe trabalhadora. Nos Estados Unidos, por exemplo, além da comemoração da declaração da independência, o 4 de julho era conhecido como a data de todos os proletários do país.

Contudo, os acontecimentos ocorridos durante o século XIX fizeram com que o primeiro dia do mês de maio emergisse como o dia internacional da classe. Com a ampliação da produção em escala nas fábricas que surgiam, o movimento operário mais organizado também entrou em cena.

Já na primeira metade dos anos 1800, em Boston e na Filadelfia, carpinteiros fizeram uma paralisação exigindo que a carga horária não ultrapassasse as dez horas diárias. Nas palavras dos grevistas:

all men have a just right, derived from their Creator, to have sufficient time in each day for the cultivation of their mind[s] for self-improvement”. (FONER, 2005)

[tradução direta: “todos os homens tem o justo direito, derivado de seu criador, de ter tempo suficiente por dia para cultivar suas mentes para o auto aperfeiçoamento”]

Essas primeiras greves em busca da redução da jornada de trabalho falharam, mas não cessaram. Após o fim da Guerra Civil Americana, milhares de imigrantes adentraram os Estados Unidos e foram levados a um quadro de pobreza e exploração. Dentre os trabalhadores, os imigrantes eram os mais precarizados e recebiam menos. A jornada de um dia de trabalho custava menos de dois dólares.

O cenário caótico social fez com que se abrisse uma nova era de lutas por melhores condições e uma jornada menor. Se na primeira metade do século XIX a classe operária lutava por dez horas de jornada, após a guerra civil, começou a surgir o movimento pelas oito horas diárias de trabalho.

Uma dessas greves em busca de melhorias se deu em Chicago, em Haymarket Square, em 04 de maio de 1886. Operários estadunidenses e imigrantes, a maioria composta por irlandeses, seguiam lado a lado na paralisação que vinha sendo realizada de forma pacífica. Além das pautas trabalhistas, a greve se dava em resposta às mortes de operários irlandeses pela polícia nos primeiros dias de maio, durante a grande greve nacional.

Folheto chamando os trabalhadores a se unirem na praça de Haymarket para protestar por melhores condições de trabalho e protestar contra a violência policial que já havia matado dois trabalhadores irlandeses dias antes. 4 de maio de 1886, Chicago History Society.

Em um dado momento da procissão, um desconhecido (posteriormente foi levantada a hipótese de ter sido um policial infiltrado) atirou uma bomba de dinamite em direção aos policiais, iniciando uma série de tiros pelo lado atingido. Após o fim da confusão, o saldo era caótico: vários civis mortos, 8 trabalhadores presos e milhares de feridos.

Durante os processos judiciais contra os operários presos, divulgados internacionalmente, o juri não foi brando. Após as deliberações, os presos foram condenados por conspiração, sendo sete condenados à morte e um a 15 anos de prisão. O episódio ficou conhecido como “massacre de Haymarket”.

Ilustração do massacre de Haymarket por Harper’s Weekly, 15 de maio de 1886.

Ilustração dos oito trabalhadores condenados. “Portraits of the Haymarket Martyrs”, Frank Leslie’s Illustrated Newspaper, 1887.

O caso de Chicago fora reflexo da grande greve geral que ocorrera no dia 01 de maio, unindo trabalhadores do país pelas oito horas diárias. Devido à importância da data, tanto por ter unido milhares de pessoas em uma marcha nacional quanto pelo fato de ter dado início ao massacre de Haymarket, o 1° de maio foi escolhido como o dia Internacional dos Trabalhadores.

Em 1893, o novo governador de Illinois, John Peter Altgeld, concedeu o perdão, para alguns póstumo, e condenou a forma como o julgamento de Haymarket ocorreu. Apesar dos acontecimentos sangrentos e tumultuados no final dos anos 1800, a luta dos trabalhadores ao redor do mundo segue ininterrupta em busca da garantia e proteção de seus direitos.

Recentemente, no Brasil, a histórica luta nacional pelos direitos trabalhistas sofreu um duro golpe com a aprovação inicial na Câmara Nacional de Projeto de Lei que visa ampliar a possibilidade de terceirização. Para a classe trabalhadora, tal projeto representa um retrocesso nos anos de luta por direitos trabalhistas.

Referências:
– FONER, Philip S.. “May day: a short history of the international workers’ holiday, 1886-1986“. International Publishers Co., 2005.
– “The Dramas of Haymarket“. Chicago Historical Society and Northwestern University
– Trachtenberg, Alexander. “The History of May Day“. Marxists.org
A Queda da Bastilha

A Queda da Bastilha

A tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789, dando início à Revolução Francesa.

Pintura: “A Queda da Bastilha”, visível no centro é a prisão de Bernard René Jourdan (De Launay), Água 37,8 x 50,5 cm”. Jean-Pierre Houël. Bibliothèque nationale de France, 1789.

No dia 14 de julho de 1789 em Paris, é invadida a Bastilha, uma fortaleza medieval transformada em prisão e representando o poder monárquico. A queda da prisão simboliza o estopim para a Revolução Francesa que seria acompanhada por uma série de outras revoluções pela Europa no século seguinte.

Nas palavras de Hobsbawm:

O fim do século XVIII, […], foi uma época de crise para os velhos regimes da Europa e seus sistemas econômicos, e suas últimas décadas foram cheias de agitações políticas, às vezes chegando a ponto da revolta […}. A quantidade de agitações políticas é tão grande que alguns historiadores mais recentes falaram de uma ‘era da revolução democrática’, em que a Revolução Francesa foi apenas um exemplo, embora o mais dramático e de maior alcance e repercussão”. — (Hobsbawm, 1997, pg. 98-99)

Assim como Hobsbawm disse acima, o pano de fundo para o quadro social que culminou na queda da Bastilha está imerso numa crise econômica e política pela qual a França vinha passando sob o reinado de Luís XVI.

Endividada com os custos oriundos da Revolução Americana e com um sistema tributário regressivo abusivo, a França, na figura do monarca, também passava por um período turbulento de mudanças políticas.

Durante meses, diversas Assembleias foram convocadas pela aristocracia para resolver as questões econômicas pendentes e que vinham descontentando a população; todas sendo barradas pela nobreza e por Luís XVI.

Até que em 9 de julho de 1789 é criada a Assembleia Nacional Constituinte, nomeada também de Terceiro Estado, com representantes da plebe e com força entre a burguesia com ideais liberais.

Dois dias depois, o rei retira Jacques Necker das funções de ministro das Finanças, acusado de apoiar e se solidarizar com o Terceiro Estado. A notícia da demissão se espalhou por toda a Paris, aumentando ainda mais a agitação da população.

O povo começou, então, a saquear locais que contivessem alimentos e armas. Juntamente a esse cenário, diversas deserções vinham acontecendo no exército real francês em favor das causas populares, sobrando praticamente apenas as tropas mercenárias alemãs e suíças.

Finalmente na manhã de 14 de julho, com a cidade em alerta, os revolucionários do Terceiro Estado resolvem invadir a Bastilha para saquear a pólvora e as armas que eram mantidas na prisão.

Após algumas horas de negociações infrutíferas, um tiroteio contra a população é iniciado pelas 13 horas. No meio da tarde, as frentes de ataques são reforçadas por desertores da guarda francesa, juntamente com dois canhões.

Às 17 horas, então, De Launay, “governador” da Bastilha, prevendo que suas tropas não aguentariam por muito tempo, resolve abrir as portas do pátio inferior da prisão. A cabeça de De Launay é serrada e exposta pelas ruas de Paris.

Nos dias seguintes, a população se arma e se entrincheira nas ruas de Paris, enquanto a onda de violência aumenta. Tudo isso faz com que a nobreza comece a fugir do país.

A insurreição iniciada em Paris com a queda da Bastilha se alastra para o resto da França, entrando para a História como a Revolução Francesa. Dali, o exemplo da revolução seria espalhado para o resto da Europa, dando início a uma série de revoltas que derrubariam de vez com as monarquias.

Pintura: “A Queda da Bastilha”, visível no centro é a prisão de Bernard René Jourdan (De Launay), Água 37,8 x 50,5 cm”. Jean-Pierre Houël. Bibliothèque nationale de France, 1789.
Referências:
– MIGNET, François. “History of the French Revolution from 1789 to 1814”. Project Gutenberg, 1824.
– HOBSBAWM, Eric J.. A era das revoluções, Paz e Terra, 10a edição,1997
1° de maio: Dia Internacional dos Trabalhadores

Trégua de Natal de 1914: quando a paz reinou em meio à guerra

Trégua de Natal

Sinal da paz: os soldados rivais jogam futebol na “Terra de Ninguém” durante a Trégua de Natal. Foto: Imperial War Museum

A trégua de natal foi um episódio curioso da Primeira Guerra Mundial e um marco na história. Durante os últimos dias de dezembro na região de Ypres, Bélgica, soldados alemães decoraram suas trincheiras com velas e enfeitaram algumas árvores o Natal.

Trégua de Natal

Soldados alemães comemorando o Natal em uma trincheira durante a Primeira Guerra Mundial.

Começaram, então, a cantar canções natalinas alemãs. Observando o que se passava nas trincheiras inimigas, os soldados ingleses começaram a cantar suas próprias canções. Nesse momento, ambos os lados passaram a saudar um ao outro; era véspera de Natal e, por 6 dias, a guerra cessou e a paz reinou.

Trégua de Natal

Soldados comendo uma refeição para celebrar o dia de Natal em uma trincheira parcialmente ocupada pelo túmulo de um companheiro.

De forma não oficial, soldados inimigos fizeram uma trégua em meio às batalhas e promoveram o cessar fogo para celebrarem juntos aquela data festiva, trocando presentes, cantando canções natalinas e até jogando partidas de futebol na “terra de ninguém”. O episódio da Trégua de Natal nunca mais se repetiu após aquele dezembro de 1914, tornando-se quase um mito e, de fato, um marco histórico.

A equipe do Museu de Imagens buscou as informações para creditar as imagens. Entretanto nada foi encontrado. Caso saibam mais informação a respeito da autoria, entrem em contato.
Referências:
– “England v Germany: when rivals staged beautiful game on the Somme“. The Telegraph, 2013.
Daily Mail.