Massacre de Munique: o atentado que marcou os Jogos Olímpicos

Massacre de Munique: o atentado que marcou os Jogos Olímpicos

Massacre de Munique

Membro da organização Setembro Negro aparece na sacada da Vila Olímpica horas depois do início do Massacre de Munique. A tragédia foi acompanhada pela televisão por mais de 900 milhões de pessoas no mundo inteiro.

Membro da organização Setembro Negro aparece na sacada da Vila Olímpica horas depois do início do Massacre de Munique. A tragédia foi acompanhada pela televisão por mais de 900 milhões de pessoas no mundo inteiro.

O Massacre durante as Olimpíadas de Munique

No dia 5 de setembro de 1972, durante os Jogos Olímpicos de Munique, oito membros da organização Setembro Negro entraram sem maiores dificuldades na Vila Olímpica e, armados de fuzis e granadas e se passando por também atletas olímpicos, invadiram os alojamentos e foram até os dormitórios destinos à delegação de Israel, assassinando logo na primeira investida, Moshe Weinberg, treinador do time de luta, e Joe Romano, campeão de levantamento de peso, além de manterem nove membros da delegação israelense como reféns. Horas depois, os terroristas exigiram um avião para levar o grupo e os reféns a capital do Egito, Cairo. Prontamente foi elaborada uma desastrosa operação militar que visava eliminar os terroristas num aeroporto próximo de Munique, o Fürstenfeldbruck.

A tentativa frustrada de libertação dos reféns levou à morte de todos os sete atletas sobreviventes (somando-se aos outros dois que já estavam mortos quando da invasão do apartamento na Vila Olímpica), além de mais cinco terroristas e um agente da polícia alemã. Três terroristas sobreviveram ao ataque e foram presos. Como se constatou posteriormente, as forças policiais alemãs estavam mal preparadas e a situação fugiu do controle.

Munique 1972

O resultado desastroso da tentativa de resgate no aeroporto de Fürstenfeldbruck, próximo a Munique. Todos os atletas israelenses foram mortos, além de outros 5 terroristas e um soldado alemão. Foto: AFP

Consequências do atentado

Ainda em 1972, em decorrência do massacre, Israel retaliou bombardeando mais de dez bases da OLP localizadas na Síria e no Líbano. A vingança de Israel continuou assim que a Mossad (serviço de inteligência israelense) foi autorizada pela primeira-ministra israelense Golda Meir a empreender uma impiedosa caçada aos mentores e apoiadores do atentado de Munique. A operação ficou conhecida como “Ira de Deus” e se estendeu por mais de 20 anos, tendo como alvo dezenas de membros do grupo Setembro Negro e da Organização Para a Libertação da Palestina (OLP).

Embora os atos de terror palestino contra Israel não fossem novidade na época, nenhum teve o efeito dramático deste, perpetrado contra atletas olímpicos de alto nível e com cobertura ao vivo de toda a imprensa mundial. Como consequência do embaraçoso desfecho, o governo alemão criou a famosa unidade policial contra-terrorista, o GSG-9, que se transformou em exemplo mundial no combate ao terrorismo. Após Munique, todos os eventos esportivos passaram a contar com um rigoroso esquema de segurança.

Adaptação para o cinema

No ano de 2007 foi lançado Munique, filme baseado nos fatos que sucederam o massacre de 1972. Um detalhe curioso do filme é que Guri Weinberg interpreta o seu próprio pai, Moshe Weinberg. Moshe era o treinador da equipe de luta livre israelense e foi a primeira vítima assassinada pelos terroristas, logo na investida à Vila Olímpica.

Vítimas Israelenses do Massacre de Munique

Fotos dos 11 membros da delegação israelenses mortos nos atentados de Munique. Moshe Weinberg, Jakov Springer, Eliezer Halfin, Amitzur Shapira, Mark Slavin, Kehat Shorr, Joseph Gottfreund, André Spitzer, David Berger, Zeev Friedman e Joseph Romano.

Yasser Arafat e Yitzhak Rabin: o aperto de mão do Nobel da Paz

Yasser Arafat e Yitzhak Rabin: o aperto de mão do Nobel da Paz

Yasser Arafat e Yitzhak Rabin em um aperto de mão que lhes rendeu o Nobel da Paz

Famoso aperto de mão entre Yasser Arafat com Yitzhak Rabin (chefe de Estado israelense), ao lado de Bill Clinton, que rendeu o Prêmio Nobel da Paz aos dois líderes. Foto de Ron Edmonds

Breve histórico da escalada de Yasser Arafat e da luta com Israel:

É inegável que a imagem de Yasser Arafat é controversa e, por vezes, ele é visto como um líder de extremos.  As vezes visto como um ditador, outras vezes como um defensor da causa palestina e, portanto, como negociador visionário, Yasser Arafat não deixa de ter seu enorme peso político e histórico tanto na causa palestina, como na história contemporânea. O líder nasceu em 4 de agosto de 1929 no Cairo e estudou na Universidade do Cairo até 14 de maio de 1948, quando abandonou-a para lutar contra os judeus, após a proclamação da independência de Israel.

Entretanto, Israel reprimiu os ataques e consolidou-se como nação no cenário geopolítico regional. A partir daí nascia a futura rivalidade entre Arafat e o Estado de Israel. Após esse episódio, Yasser Arafat permaneceu na faixa de Gaza, onde se encontravam outros refugiados palestinos e, um tempo depois, retornou para a Universidade do Cairo, para estudar engenharia. Foi nesse período que o líder palestino conheceu seus fiéis aliados durante o período militar da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Posteriormente, tendo se formado na universidade e após os combates na crise de Suez, Arafat e Jihad (seu companheiro na OLP) intensificaram a luta armada contra Israel e acabou sendo preso pelo governo egípcio.

Todo esse episódio o levou a se exilar no Kuwait, fundando seu movimento (Fatah) ao lado de Abu Jihad e Abu Mazen (sucessor na OLP), cuja doutrina do movimento preconizava a libertação da Palestina. Entretanto, os israelenses, os egípcios, jordanianos e sírios viam no movimento e nos palestinos um inimigo e não intentavam abandonar o poder de influência sobre a Palestina. Contudo, por divisões internas no movimento acabaram por minar as intenções palestinas até 1969, quando Arafat se tornou presidente do comitê executivo da OLP, após ter perdido a organização para outro líder palestino no decorrer da década de 60.

Porém, devido as divergências dentro da organização e cansado da intenção de se criar um Estado palestino dentro do Estado jordaniano, o presidente Hussein ordenou que o exército jordaniano atacasse os palestinos. O resultado desse ataque foi sangrento, com mortos lotando os campos de refugiados e Arafat acabou sendo culpado pelo desastre. Ainda assim, o líder se manteve no posto dentro da organização e rumou-a para o Líbano, lançando os palestinos numa escalada cada vez mais terrorista com a organização Setembro Negro, em que ficou conhecida pelo assassinato de atletas israelenses nos jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Para piorar a situação do movimento palestino veio a Guerra do Yom Kippur, 1973.

Porém Yasser Arafat alcançou uma vitória com a conferência de cúpula da Liga Árabe, que reconheceu os direitos da OLP em representar o povo palestino. Após esse episódio da Liga Árabe, a OLP e Arafat passaram a receber o apoio da Liga, da Arábia Saudita e se encontrou com o ministro das Relações Exteriores da França e, em 1974, Yasser Arafat fez um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, sendo admitida, mais tarde, a OLP no Conselho de Segurança da ONU sobre o Oriente Médio. Foi a partir desse aumento de expressividade que o líder palestino iniciou uma série de negociações secretas com os israelenses.

Contudo, essas negociações culminaram no assassinato de alguns representantes dessa aproximação entre o líder palestino e os generais e diplomatas israelenses. O fracasso nas negociações resultou na operação Paz na Galiléia, por Ariel Sharon, invadindo o Líbano, gerando um massacre e expulsando a OLP da região, que acabou conquistando simpatias pela opinião pública internacional.

Na palavras do jornalista Edouard Zambeaux.

Pedras contra armas automáticas: assim a resistência palestina abriu uma nova era na luta pelo reconhecimento nacional. A primeira Intifada escapou ao controle da OLP, mas gerou uma onda de simpatia quase universal. Na gigantesca favela que se tornaram os 370 km² da faixa de Gaza, meninos enfrentam com pedras um dos mais temíveis exércitos do mundo.

Tudo isso acabou, entre outras conquistas e derrotas (Guerra do Golfo e apoio a Sadam Hussein), resultando no triunfo de Arafat como líder palestino e, em 1988, outro concorrente surgiu, o Hamas, irrompendo a tendência islâmica na cena política palestina. Com o fim da guerra do Golfo, as negociações entre os palestinos e Israel retornaram e, em 1992, com a eleição de Yitzhak Rabin em Israel, outra reunião histórica teve lugar na cena internacional.

No gramado da Casa Branca, o líder israelense e Yasser Arafat apertaram as mãos, rendendo-lhes o Nobel da Paz. Após idas e vindas nas negociações entre ambos os líderes (agora Yasser Arafat era considerado um chefe de Estado), as nações, palestina e israelense, não conseguiram chegar a um acordo e a “guerra” segue atualmente.

Referência:
– ZAMBEAUX, Edouard. “Yasser Arafat- um líder entre extremos“. História Viva.