Ahmad Shah Massoud – O Leão do Panjshir

Ahmad Shah Massoud – O Leão do Panjshir

Ahmad Shah Massoud foi um líder político e militar do Afeganistão. Formado em Engenharia pela Universidade de Cabul, recebeu o apelido de “Leão do Panjshir” durante a invasão soviética (Guerra do Afeganistão – 1979/1989), quando repeliu com sucesso 8 grandes ofensivas do Exército Vermelho ao Vale do Panjshir, região montanhosa ao norte do país, local onde nasceu. Após a retirada soviética em 1989, Massoud foi um dos líderes responsáveis por manter a ordem no Afeganistão nos anos subsequentes e chegou a exercer a função de Ministro da Defesa.

Ahmad Massoud: O Leão do Panshjir

Sempre contrário à milícia extremista e a interpretação extremista do Alcorão feita pela Al-Qaeda, foi forçado a se retirar juntamente com o restante de suas tropas para o norte do território afegão, onde se estabeleceu e iniciou a resistência armada contra o Talibã por meio da organização político-militar “Aliança do Norte”. Massoud usou todo seu carisma e popularidade para ajudar a solucionar uma guerra civil no vizinho Tajiquistão, influenciando as partes envolvidas a aceitarem um plano de paz da ONU. Também era contra a interpretação extremista do Islã, defensor da democracia e dos direitos das mulheres, da igualdade dos indivíduos e a favor de um Estado sob a égide do Direito Internacional.Por ter combatido “árabes”, O Leão do Panshjir gozava de uma popularidade maior entre os ocidentais do que entre os próprios árabes.

Ahmad Shah Massoud, além de um grande líder, era um visionário. Ao mesmo tempo em que tentava lidar com as rígidas tradições afegãs, sabia que o desenvolvimento de seu povo só seria alcançado por meio da educação. Em contraste com as rígidas regras impostas pelo Talibã na maior parte do território afegão, nas áreas controladas por Massoud, homens e mulheres eram iguais e gozavam dos mesmos direitos e deveres. As mulheres e meninas eram autorizadas a trabalharem e irem para a escola, não eram obrigadas a vestirem a burca afegã (vestimenta conservadora que cobria todo o corpo da mulher). Massoud também se posicionava contra os casamentos forçados e, inclusive, chegou à intervir em favor de mulheres em algumas ocasiões. Durante anos, centenas de milhares de refugiados afegãos fugiram de áreas controladas pelo Talibã e se estabeleceram em território sob domínio da Aliança do Norte.

Massoud e o fotógrafo francês Cristophe de Ponfilly.

Massoud e o fotógrafo francês Cristophe de Ponfilly.

A morte de Ahmad Shah Massoud

No dia 9 de setembro de 2001, apenas dois dias antes dos ataques terroristas nos Estados Unidos ao World Trade Center e ao Pentágono, dois homens-bomba árabes que diziam ser repórteres de uma emissora dos Emirados Árabes Unidos detonaram os explosivos logo no início da suposta entrevista, ferindo Ahmad, que não resistiu e morreu horas depois. Nas semanas anteriores, Massoud já tinha reunido com vários líderes tribais do Afeganistão e adiantado todos os preparativos para o início da ofensiva liderada pelos Estados Unidos e que culminou com a queda do Talibã. Seus seguidores o chamam de Amir Sahib-e Shahid (“Nosso Comandante Martirizado Amado”).

Após sua morte, Massoud foi nomeado “Herói Nacional do Afeganistão” por ordem do presidente afegão, Hamid Karzai. A data da sua morte, 09 de setembro, é um feriado nacional conhecido como “Dia Massoud” no Afeganistão. Muitos de seus seguidores o enxergam não apenas como um comandante militar, mas também como um líder espiritual (O túmulo fica situado no alto de uma montanha em Pans, perto de onde nasceu, e que atualmente é considerado um lugar sagrado por muitos afegãos). Em 2002, foi nomeado postumamente para o Prêmio Nobel da Paz.

Mausoléu de Ahmed Shah Massoud, localizado em uma montanha no Vale do Panshjir.

Mausoléu de Ahmed Shah Massoud, localizado em uma montanha no Vale do Panshjir.

Referências:
Marcela Grad. Masoud: An Intimate Portrait of the Legendary Afghan Leader. Webster University Press.
Ahmad Shah Masoud: Lion of Afghanistan, Lion of Islam.
Masoud – O Afegão do Destino. Documentário.
Aitzaz Hasan –  o verdadeiro herói

Aitzaz Hasan – o verdadeiro herói

Hasan, um garoto paquistanês de apenas 15 anos, nunca foi uma personalidade conhecida em seu país. Contudo, no dia 6 de janeiro de 2014, tudo mudou. Aitzaz Hasan e seus amigos estavam do lado de fora da escola em Ibrahimzai, noroeste paquistanês, quando avistaram um terrorista suicida vestido com um colete repleto de explosivos, cujo objetivo era detonar o artefato explosivo no meio de cerca 2.000 crianças que estavam no interior da escola.

Seguindo o instinto básico da sobrevivência humana, os jovens adolescentes fugiram. Menos Aitzaz Hasan. Proferiu suas últimas palavras (“estou indo para impedi-lo. Ele está indo para a escola para matar os meus amigos”) e, sem hesitar, o pequeno herói foi ao encontro do terrorista, iniciando uma luta corporal que resultou na detonação da bomba, matando ambos. Aitzaz Hasan transcendeu. A virtude da coragem emanada do adolescente de 15 anos sobrepujou o ato de extrema covardia e fanatismo religioso que o terrorista estava prestes a concretizar. Hasan se transformou em um verdadeiro mártir e exemplo para o mundo, alcançando a imortalidade. Como já havia dito Sêneca: O ponto não é quanto tempo você vive, mas como nobremente você vive.

Hasas Aitzaz

A foto do estudante Aitzaz Hasaz é colocada junto aos seus colegas na escola que ele ajudou a salvar no Paquistão.

Hasan não possuía características comuns aos grandes heróis da História, tais como a beleza e o carisma contundentes. Tampouco foi citado como “herói” em algum discurso eloquente proferido por algum apresentador de reality show. Hasan era um bom estudante e vivia uma vida simples, sem grandes aspirações, no pacato noroeste do Paquistão. Medalhas e condecorações seriam pouco para compensar o ato de heroísmo deste jovem.

“O verdadeiro heroísmo é extremamente sóbrio, muito pouco dramático. Não é a vontade de superar todos os outros a qualquer custo, mas o desejo de servir aos outros a qualquer custo.” – Arthur Ashe

Referências:
BBC News. Aitzaz Hasan: Tributes to Pakistan teenager killed when he stopped a bomber.
G1. Jovem que morreu para salvar escola será condecorado no Paquistão.

Sharbat Gula: os olhos enigmáticos da menina afegã

A famosa foto de Sharbat Gula, a menina afegã, foi registrada pelo fotógrafo Steve McCurry e virou capa da revista National Geographic em 1985.

Sharbat Gula: os olhos enigmáticos da menina afegã

A foto conhecida como “Menina Afegã” ficou mundialmente conhecida, porém, na época ninguém conhecia a identidade da criança de olhar enigmático. A menina foi identificada mais tarde; seu nome era Sharbat Gula e pertencia à etnia Pashtu. Sua história percorreu o mundo após ser publicada uma foto do rosto de Sharbat Gula na revista National Geographic em 1985, ganhando a alcunha de símbolo dos refugiados no mundo.

A menina, então com 12 anos, acabara de perder os pais no bombardeio soviético ao Afeganistão e permanecia em um campo de refugiados em Nasir Bagh, no Paquistão. Num raro momento em que estava sem burca (a lei obrigava todas as mulheres afegãs a usarem burca), Steve McCurry a fotografou, eternizando esse momento histórico. A fotografia foi intitulada como a mais reconhecida na história da revista.

O assassinato de Benazir Bhutto no Paquistão em 2007

O assassinato de Benazir Bhutto no Paquistão em 2007

Assassinato de Benazir Bhutto

Momento exato da explosão que vitimou fatalmente Benazir Bhutto. Foto: Associated Press.

No dia 27 de dezembro de 2007, na saída de um comício do Partido do Povo Paquistanês na cidade de Rawalpindi, próxima a capital do país, Islamabad, um homem-bomba sob a bandeira da Al Qaeda alvejou no pescoço e no peito a recém-repatriada (após oito anos de exílio) e antiga primeira-ministra Benazir Bhutto. No instante seguinte (momento exato em que a foto foi tirada), o mesmo terrorista explodiu uma bomba que carregava amarrada junto ao corpo, matando outras quinze pessoas. Levada para o hospital local em estado gravíssimo, Bhutto não resistiu aos ferimentos e faleceu.

Benazir Bhutto

Benazir Bhutto foi a primeira mulher a ocupar um cargo de chefe de governo de um Estado muçulmano moderno, sendo primeira-ministra do Paquistão por duas vezes. Bhutto havia colecionado vários inimigos, primeiramente por ser mulher e ocupar um cargo de poder em um Estado islâmico conservador, e segundo por adotar uma posição laica e se posicionar frente à violações aos direitos humanos em um país fundamentalmente islâmico. Contudo, sua vida política foi marcada pelo apoio a milícia Talibã no Afeganistão e acusações de corrupção durante seu governo. Quando desembarcou do seu exílio no dia 27 de outubro de 2007, Benazir foi recebida por mais de 100 mil pessoas e, ainda nesse mesmo dia, durante o desfile por Islamabad, duas explosões perto dos carros da sua comitiva mataram 140 pessoas e feriram mais de 200.

Bhutto denunciava incessantemente ameaças de fanáticos seguidores do antigo regime do General Muhammad Zia Ul-Haq – o mesmo que havia deposto seu pai na década de 1970. A morte da líder da oposição não foi de todo surpresa, pois não era a primeira tentativa que sofrera.

Consequências políticas causadas pelo morte de Benazir Bhutto

Sua morte causou um grande retrocesso democrático no Paquistão e no mundo islâmico em geral. Uma série de represálias violentas foi realizada por partidários e simpatizantes de Bhutto após sua morte. Várias edificações foram atacadas e incendiadas e as pressões internas e externas exigindo a renúncia do então presidente, Pervez Musharraf, intensificaram-se. O mundo inteiro se opôs contra a violência no Paquistão, inclusive a vizinha Índia, sua inimiga histórica.

Benazir Bhutto e Margaret Tatcher

Bhutto foi primeira-ministra do Paquistão por duas vezes. O primeiro mandato entre 1988 e 1990 coincidiu com os últimos anos do governo de Margaret Thatcher no Reino Unido.

Benazir Bhutto

Benazir Bhutto a esquerda, na época de estudante universitária, e na direita, já como primeira-ministra do Paquistão.