por | 28/09/2017 | Brasil, Política, Século XX
Bonde virado na praça da República por ocasião da Revolta da Vacina, 1904.
A Revolta da Vacina
Uma das primeiras e mais importantes revoltas populares durante a primeira República, em busca dos direitos da população pobre, a Revolta da Vacina eclodiu em 1904 no Rio de Janeiro. Os insurgentes se revoltaram devido à violência utilizada contra a população para a vacinação forçada durante a operação montada pelo sanitarista Oswaldo Cruz, Diretor Nacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro, capital brasileira na época.
A campanha foi feita a mando do Presidente Rodrigues Alves, como parte de uma série de reformas e projetos de urbanização. A determinação era a de que os agentes sanitários entrassem nas casas das pessoas, desnudassem mulheres e crianças, em sua maioria contra sua vontade, para aplicar a vacina contra a febre amarela e varíola. Na imagem, populares derrubaram um bonde em protesto durante a revolta.
Foto: © Marianno da Silva. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional.
Rio de Janeiro, foto publicada na revista da semana de 27 de novembro de 1904.
por | 11/08/2017 | Brasil, Imagens Históricas, Personalidades, Século XX

João Cândido lê o decreto da Anistia que deu fim ao episódio conhecido como “Revolta da Chibata”, em 1910.
Um dia após a Proclamação da República (1889) ficara estabelecido que castigos físicos deveriam ser abolidos da Marinha do Brasil. Contudo, a decisão foi suspensa um ano depois através de um decreto publicado no Diário Oficial, em que estava previsto:
“Para as faltas leves, prisão a ferro na solitária, por um a cinco dias, a pão e água; faltas leves repetidas, idem, por seis dias, no mínimo; faltas graves, vinte e cinco chibatadas, no mínimo.”
A Revolta da Chibata
O retorno a práticas degradantes como castigo incomodou os marinheiros, em sua maioria negros e mulatos, pois remontava à época da escravidão, abolida em 1888. As faltas mais graves eram punidas com até 25 chibatadas e, ainda por cima, existia o uso do “bolo”, prática abusiva que consistia em bater com a palmatória nas mãos estendidas dos marujos, dentre outros castigos corporais. Os abusos tornaram-se cada vez mais frequentes, levando João Cândido Felisberto, filho dos ex-escravos João Felisberto e Inácia Cândido Felisberto, conhecido como “Almirante Negro”, a criar um Comitê para a organização de uma revolta contra o código disciplinar. Por dois anos a revolta foi organizada, até que em 1910, após o marinheiro Marcelino Rodrigues ter sido castigado com 250 chibatadas, a revolta estourou em 22 de novembro.
Os termos da Revolta da Chibata, como ficou conhecida, eram claros: ou o governo abolia as práticas degradantes e abusivas, ou os encouraçados São Paulo e Minas Geraes (nas fontes modernas, “Minas Gerais”), atracados na Baía de Guanabara, bombardeariam o Rio de Janeiro, à época capital federal:
“Não queremos a volta da chibata. Isso pedimos ao presidente da República e ao ministro da Marinha. Queremos a resposta já e já. Caso não a tenhamos, bombardearemos as cidades e os navios que não se revoltarem.” (Carta de João Cândido, porém escrita por outro marinheiro)
Após 5 dias de pressão, o presidente Marechal Hermes da Fonseca aceitou o ultimato dos revoltosos, abolindo os castigos físicos e anistiando os revoltosos que se entregassem. Contudo, dois dias após a entrega das armas, foi emitido um novo decreto declarando que seriam expulsos da Marinha elementos inconvenientes à disciplina. No dia 2 de dezembro, 16 marinheiros sofreram tal punição.
A reviravolta nas decisões políticas ocasionou uma segunda revolta, fortemente reprimida com prisões e mortes. João Cândido foi internado como louco no Hospital de Alienados, porém foi absolvido dois anos depois.
Referências:
Foto: Augusto Malta, Rio de Janeiro, 1910, Acervo Fundação Biblioteca Nacional.
MAESTRI, Mário. 1910: a revolta dos Marinheiros. Uma saga negra. 3 ed. São Paulo: Global, 1982
KOSSOY, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 – 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012. p. 18.
por | 11/05/2017 | Guerras, Imagens Históricas, Política, Século XX
Jan Rose Kasmir, uma jovem norte-americana, confronta a Guarda Nacional do lado de fora do Pentágono com uma flor nas mãos durante uma marcha contrária à Guerra do Vietnã em 1967. Essa ato ajudou a colocar a opinião pública em desfavor da intervenção americana no Vietnã.
Marcha Sobre o Pentágono e a mobilização jovem
No dia 21 de outubro de 1967, o Comitê de Mobilização de Primavera Para Terminar a Guerra no Vietnã (The Spring Mobilization Committee to End the War in Vietnam), uma coalizão de ativistas antiguerra formados em 1967 para organizar grandes manifestações em oposição à Guerra do Vietnã, organizou uma grande manifestação que marchou para o Pentágono. Conhecida como “Marcha sobre o Pentágono”, o ato foi seguido por desobediência civil e atraiu cerca de 50.000 participantes, liderados pelo ativista social Abbie Hoffman. Cerca de 650 pessoas, incluindo o romancista Norman Mailer, foram presos por desobediência civil.
Foto: Marc Riboud. Washington DC. 1967.
por | 01/12/2013 | Curiosidades, Política, Século XX

Moça em uma escola de ativistas negros, sendo treinada com puxões de cabelo e baforadas de cigarro para não reagir a possíveis provocações que poderia sofrer tanto na sociedade, quanto nas escolas, 1960. Foto: © Eve Arnold / Magnum Photos
Muitas pessoas conhecem a história de Rosa Parks, a mulher que se recusou a levantar de seu assento no ônibus para dar lugar a uma pessoa branca em 1955. No entanto, poucas pessoas sabem que, quatro meses antes, Rosa cursou uma “escola de desobediência civil” — Highlander Folk School do Tennessee — para aprender a não reagir às provocações que pudesse sofrer ao longo de sua luta.
A ideia de se criar escolas de desobediência civil ganhou força na época, pois era uma das formas pacíficas de manifestação que fazia parte do lema da não violência perpetrado por Martin Luther King Jr.; carregando a ideia de não revidar às provocações, mas provocar por não reagir. Dessa forma, as intenções dos racistas em humilhar os manifestantes não seriam atingidas, demonstrando força no movimento pela luta dos direitos civis dos negros.
Em 1960, baseado na ideia da desobediência civil, um grupo de ativistas universitários formou o Comitê dos Estudantes Não-Violentos (SNCC) na Universidade de Shaw. O grupo teve um papel extremamente importante na luta pelos direitos dos negros ao organizar passeatas e outras ações não violentas. Para tanto, o comitê teve que se preparar para todo tipo de demonstração de ódio que encontraria durante a luta, cuja solução encontrada se baseava no treinamento pelas escolas de desobediência civil.
Por meses, os alunos passaram por treinamentos pesados que incluíam puxões de cabelos, abusos verbais, tapas na cara, socos etc. Na sessão de fotos raríssimas abaixo, feitas pelos fotógrafos lendários que documentaram as manifestações pelo fim da segregação racial — James Karales e Eve Arnold —, é possível ter ideia do treinamento pesado pelo qual o Comitê dos Estudantes Não-Violentos passou.

“Passive Resistance Training”, SNCC, 1960. © The Estate of James Karales, Cortesia de Howard Greenberg Gallery, Nova York.

“Passive Resistance Training”, SNCC, 1960. © The Estate of James Karales, Cortesia de Howard Greenberg Gallery, em Nova York.

“Passive Resistance Training”, SNCC, 1960. © The Estate of James Karales, Cortesia de Howard Greenberg Gallery, em Nova York.

“Passive Resistance Training”, SNCC, 1960. © The Estate of James Karales, Cortesia de Howard Greenberg Gallery, em Nova York.

Foto: © Eve Arnold / Magnum Photos

Foto: © Eve Arnold / Magnum Photos
Referência:
– Clayborne Carson, In Struggle, SNCC and the Black Awakening of the 1960s: Harvard University Press, 1981
por | 21/11/2013 | Personalidades, Política, Século XX

Thích Quảng Ðức ateia fogo em seu próprio corpo durante uma manifestação na cidade de Saigon, Vietnã do Sul, contra a política religiosa do governo de Ngo Dinh Diem, em 11 de Junho de 1963. A imagem, uma das mais icônicas do século XX, foi feita pelo fotógrafo Malcolm Browne, da Associated Press.
Thích Quảng Ðức ateia fogo em seu próprio corpo durante uma manifestação na cidade de Saigon, Vietnã do Sul, contra a política religiosa do governo de Ngo Dinh Diem, em 11 de Junho de 1963. A imagem, uma das mais icônicas do século XX, foi feita pelo fotógrafo Malcolm Browne, da Associated Press.
A ato do monge
No dia 11 de junho de 1963, durante uma manifestação contra o governo, que perseguia duramente os monges budistas do país, um carro parou no cruzamento e o motorista estacionou, saiu do carro e abriu o capô, para fingir que o veículo havia apresentado algum defeito e assim, não chamar a atenção da polícia. Do banco de trás do carro, o monge Mahayan Thích Quảng Ðức, nascido em 1897 e originalmente batizado de Lâm Văn Tức, sai do carro, com dignidade, se curva para as quatro direções, e calmamente se senta na posição de lótus, de frente para o ocidente. O monge começa sua medição, recitando serenamente os nomes dos Budas. Embebido em querosene, o monge rapidamente acende um fósforo e inicia um incêndio gigante que toma conta de todo seu corpo.
Durante a autoimolação, o monge continua sentado, com as mãos juntas em frente ao peito, olhar sereno e sem demonstrar expressão de dor. O fogo estava tão quente que até o recipiente próximo derreteu, no entanto, Thích Quảng Ðức continuou sentado, em face a morte. No final, quando o fogo já se dissipava, se percebeu que o monge ainda mirou o oeste, com a cabeça balançando para baixo, como se estivesse se curvando aos Budas. Em seguida, ele caiu para trás e o suicídio se concretizou. Nada mais se podia fazer mais para deter aquele que ficou conhecido como a “Tocha da Justiça”.
O flagrante da cena
A cena, uma das mais icônicas do século XX, foi flagrada por pelo menos três pessoas, segundo Nguyen Van Thong, agente secreto que estava no comando das atividades religiosas naquele momento. Além dele, Malcolm Browne, correspondente da Associated Press, e um outro monge, registraram o momento. O próprio Nguyen, afirma, que em um reflexo, levantou a câmera e tirou uma foto da cena, mas suas mãos estavam tão trêmulas que a primeira foto saiu borrada. O policial tirou ainda mais duas fotos, sendo que uma foi registrada já quando o monge estava no chão, sem vida. Contudo, apenas a foto tomada por Malcolm Browne ficou conhecida pelo mundo, vez que Nguyen teve que devolver a câmera policial para sua sede e escondeu as fotos que tirou com o seu próprio equipamento, vez que estava trabalhando para o governo.
[VÍDEO] Reconstituição da cena de autoimolação do monge Thích Quảng Ðức