O dever de honra: menino japonês carregando o irmão morto

O dever de honra: menino japonês carregando o irmão morto

O dever de honra: menino japonês leva o corpo do irmão mais novo para cremação, 1945. Foto: Joe O’Donnell

A foto icônica do menino japonês carregando o irmão morto foi tirada por Joe O’Donnell em Nagasaki. Joe fora enviado pelo exército dos Estados Unidos para documentar os estragos causados pelos ataques aéreos com as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, no mês de agosto de 1945.

Durante meses o fotógrafo viajou pelos vilarejos e cidades japonesas narrando a devastação junto à população. O relato incluiu uma vasta documentação escrita e por negativos a respeito dos efeitos da radioatividade, dos ferimentos que foram causados, quantidade de mortos, órfãos etc.

Em um dos negativos de sua máquina fotográfica se encontrava a poderosa foto de um menino com semblante sério, cumprindo seu dever de honra. A jovem criança, que devia ter menos de 10 anos de idade, carregava nas costas o irmão mais novo morto em decorrência dos ataques atômicos.

Nas palavras de Joe O’Donnell:

Os homens com máscaras brancas se aproximaram dele e calmamente começaram a tirar a corda que segurava o bebê. Foi quando eu vi que o bebê já estava morto. Os homens o colocaram sobre o fogo e o menino permaneceu ali sem se mover em linha reta, observando as chamas. Ele estava mordendo o lábio inferior com tanta força que brilhou com sangue. A chama queimou baixo como o sol vai para baixo. O menino virou-se e caminhou em silêncio para longe”.

Por fim, o fotógrafo concluiu que a foto sintetizou o espírito de uma nação derrotada e em frangalhos socialmente.

Para ler mais sobre as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, acesse A Rosa de Hiroshima e Yoshito Matsushige: o fotógrafo que registrou a dor de Hiroshima.

Referências:
– MARTIN, Douglas. “Joe O’Donnell, 85, Dies; Long a Leading Photographer“. The New York Times.
Foto tirada do retrato icônico do menino japonês em um museu da bomba atômica em Nagasaki
O dever de honra: menino japonês carregando o irmão morto

Imigração nos Estados Unidos do século XIX: rumo à pobreza

Foto: Jacob Riis / Museum of the City of New York

Crianças dormindo na Mulberry Street, ca. 1890. Foto: Jacob Riis / Museum of the City of New York

Anualmente, milhares deles desciam na costa leste dos Estados Unidos. Poucos saíam de seu país de origem por livre e espontânea vontade. Isso porque, foi o desespero, a fome e a pobreza que impeliram a imigração nos Estados Unidos durante o século XIX e século XX, levando imigrantes sonhadores novamente para a miséria.

Ao longo do século XIX, a Revolução Industrial se estabeleceu em parte da Europa, especialmente na Inglaterra. Contudo, a ampliação fabril não trouxe a libertação financeira e a divisão por igual da bonança para a maioria da população, ao contrário, muitos trabalhavam e poucos recebiam. A pobreza ainda era pungente. Juntamente à Revolução Industrial, em meados de 1840, a Irlanda passou por uma onda de fome, precarizando ainda mais a vida do povo.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Cortiço em Nova Iorque, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Lower East Side de Manhattan, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Desesperadas por liberdade, trabalho ou ambos, inúmeras pessoas embarcaram nos navios em busca da tão falada terra das oportunidades, cidades maravilhosas dos Estados Unidos, onde o preconceito, a intolerância e pobreza não existiam e o solo ainda era virgem do uso do arado.

Após tempestades enfrentadas em alto mar por navios precários, ainda chegavam esperançosas em conseguir o tão sonhado visto; a passagem para a felicidade e fartura. Contudo, ao desembarcarem nos portos, a saga dos imigrantes apenas entrava em sua fase mais difícil.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Normalmente, aos imigrantes que chegavam à cidade restava morar em um quartinho de alguma favela ou cortiço. Muitas vezes nesse único quartinho de um cômodo só, várias pessoas se apinhavam. Na foto, uma moradora de uma das favelas de Nova Iorque posa para a foto, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum

A moradia desse feirante era um beco onde montava sua cama sobre dois barris. Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum.

Antes de poderem adentrar em território norte americano, era necessário passar por uma rígida inspeção por fiscais de saúde. Bocas eram inspecionadas e cabelos revistados para ver se não havia um único sinal da existência de piolhos ou outras doenças. Depois disso tudo, precisavam esperar pacientemente, em uma longa fila, a aprovação ou a rejeição de seus vistos.

Uma vez rejeitados, eram deportados de volta para a velha realidade e para o desespero anterior. Aqueles que conseguiam a desejada nova cidadania, encontravam uma realidade diferente daquela divulgada nas propagandas maravilhosas do novo mundo: a pobreza.

Ao contrário do que se acreditava e do que ainda hoje é mostrado ao grande público, cidades como Nova Iorque eram repletas de favelas e cortiços para onde uma massa nova imigrante anualmente se deslocava, engrossando as estatísticas da miséria.

Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum

Mulheres dormem todas juntas em um quartinho. Para se protegerem do frio, há apenas o forno ao centro da imagem, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum

Foto: Jacob A. Riis, ca. 1890.

Foto: Jacob A. Riis, ca. 1890.

Ao final do século XIX, as classes abastadas de Nova Iorque e norte americanas ainda desconheciam quase por completo as condições precárias em que se encontravam os imigrantes e pobres nova iorquinos. A pobreza somente foi desnudada quando Jacob Riis, um imigrante dinamarquês pobre e sem trabalho, resolveu documentar e denunciar o descaso que se encontrava uma boa parte da população no Lower East Side de Manhattan.

Jacob Riis inclusive é visto como um dos precursores do fotojornalismo de denúncia estadunidense, pois através de fotografias, gravuras e estatísticas levantadas junto à população, ele conseguiu juntar um material nunca antes visto a respeito da miséria invisibilizada. Riis acreditava que as condições desumanas em que muitos viviam eram fruto de descaso e desconhecimento das autoridades e das classes abastadas.

Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum.

Escola montada em um cortiço, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis / Preus Museum.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Sapateiro trabalhando em quartinho alugado que servia como moradia também, 1895-1896. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Assim, o imigrante dinamarquês imaginava que se conseguisse mostrar a realidade, poderia motivar pessoas importantes a erradicar a pobreza. Então, em 1889, Jacob escreveu um artigo expondo algumas das duras condições das favelas e cortiços de Nova Iorque, que foi publicado com uma série de suas fotografias na Revista Scribner.

Devido às imagens perturbadoras, outros jornais da cidade haviam se recusado a publicá-lo também. No entanto, após o sucesso do artigo de Jacob Riis na revista Scribner, o imigrante deu início à criação de um livro denúncia chamado “How the Other Half Lives: Studies among the Tenements of New York” (tradução livre: Como a outra metade vive: estudos acerca dos cortiços de Nova Iorque) que foi publicado em 1890.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Família pobre no Lower East Side, 1888. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riis.

Foto: Jacob A. Riis.

O título do livro é uma referência a uma frase do escritor francês François Rabelais, que escreveu a frase famosa: “metade do mundo não sabe como vive a outra metade” (“la moytié du monde ne sait l’autre comment vit”).

Em cada página, Riis denunciava as condições precárias de vida, o trabalho infantil, a miséria, fome, doença e morte a que os imigrantes e pobres estavam fadados a ter na tal terra das oportunidades. Jacob finalizava o livro sugerindo uma forma de combate à pobreza, em que dizia que as classes abastadas não deveriam apenas buscar o lucro e o dinheiro, mas deveriam ter o valor moral de buscar o bem estar de todas as pessoas.

Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Homem em sua casa em meio a um cortiço, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis, © Bettmann/CORBIS

Foto: Jacob A. Riss.

Favela de Nova Iorque, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis.

Como resultado, “Como a outra metade vive: estudos acerca dos cortiços de Nova Iorque” fez com que as autoridades buscassem melhorar as condições de vida da população; cortiços foram derrubados, sistemas de esgotos foram ampliados, escolas foram construídas etc.

Contudo, por muitas décadas a pobreza ainda se fez presente, escondida dos holofotes das propagandas do sonho de vida americano. Ainda na década de 1960, novamente uma liga de fotógrafos se juntou para denunciar a miséria estadunidense invisível aos olhos do mundo. Atualmente, com a ampliação da informação e das mídias alternativas, as realidades sociais andam mais transparentes e há uma divulgação maior da vida de milhares que ainda se encontram abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos.

Veja mais imagens abaixo:

Menino trabalhando em uma fábrica, ca. 1890. Foto: Jacob A. Riis.

Um apartamento com um pouco melhor de condições. Poucos imigrantes e nova iorquinos pobres tinham condições de pagar o aluguel de um apartamento um pouco menos precário como o da foto. Foto: Jacob A. Riis.

Foto: Jacob A. Riis

Foto: Jacob A. Riis.

Referências:
– YAPP, Nick. “1900s: Decades of the 20th Century”. GettyImages. Könemann, 2001.
– STAMP, Jimmy. “Pioneering Social Reformer Jacob Riis Revealed ‘How The Other Half Lives‘ in America. Smithsonian Magazine, 2014.
– KIRSCH, Adam. “How Jacob Riis Lived: Tom Buk-Swienty’s ‘The Other Half’“. The Sun, 2008.
Kang Dong: a residência dos ditadores da Coréia do Norte

Kang Dong: a residência dos ditadores da Coréia do Norte

Foto de satélite - Complexo Kangdong

Foto de satélite tirada do complexo “Kang Dong”, datada do dia 13 de novembro de 2011. Google Earth.

A Vila de Kang Dong

Construído na década de 1980 e expandido a partir da década de 1990, o complexo Kang Dong pertence à família do falecido ditador da Coréia do Norte, Kim Jong Il. Sob a ordem do ex-ditador, estima-se que já foram gastos cerca de 140 milhões de dólares para construir o complexo, que fica localizado no subúrbio de Pyongyang, capital do país. A vila é equipada com um hipódromo que ocupa 100.000 m², piscina, campo de futebol, lago artificial, além de outras luxuosidades, como pistas de boliche, stands de tiro e pista de patinação, em um país onde povo sofre com a fome há várias décadas. A área total da construção ultrapassa os 370.000 m². Ainda de acordo com relatos de fugitivos da Coréia do Norte e fotos captadas por satélites, existem dezenas de residências de luxo pertencentes à família do ex-ditador espalhadas por todo o país.

Kang Dong

Edifício principal do complexo Kang Dong, localizado no centro da propriedade ao redor de um lago com uma fonte de água no centro. No edifício principal se hospedam os principais parentes do ditador King Jong-un, filho do falecido King Jong II. Foto datada de 10 de junho de 1989. Autor desconhecido.

Edifício principal do complexo Kang Dong

Edifício principal do complexo Kang Dong. Foto datada de 10 de junho de 1989. Autor desconhecido.

Referências.
Google Earth.
Muzeum Komunismu (Museu do Comunismo de Praga)
DailyNK. Seoul. Kim Jong Il, Where He Sleeps and Where He Works.
O dever de honra: menino japonês carregando o irmão morto

Os fotógrafos com consciência social

"À sombra do Capitólio". Foto: © 1998 Arizona Board of Regents, Center for Creative Photography.

“À sombra do Capitólio”, de 1948, é uma fotografia que mostra o contraste entre a riqueza da capital política do país com a falta de condição de vida da população que vivia nos guetos ao redor. Foto: © 1998 Arizona Board of Regents, Center for Creative Photography.

Durante a década de 1930, quando a Grande Depressão ainda se fazia presente na sociedade estadunidense e houve a explosão de revistas fotojornalísticas como a Life, foi formada a New York League (NYL), a liga dos fotógrafos com consciência social.

A partir da junção dos trabalhos de fotógrafos renomados e outros iniciantes na área, o objetivo da recém criada liga era documentar a injustiça social presente nos Estados Unidos. Membros como Lewis Hine, Paul Strand, WeeGee, Lisette Model, W. Eugene Smith e Aaron Siskind fizeram parte da NYL, enriquecendo ainda mais o projeto artístico de crítica social.

Com o tempo, uma série de imagens revelou toda uma vida cotidiana à margem dos holofotes e dos interesses da sociedade. Em 1947, os trabalhos da New York League acabaram entrando para best home remedies for bladder infection | ohnerezeptfreikaufbladder infection home remedies … even when home remedies don’t suffice on their own they should be used to support an antibiotic treatment, … a lista negra do governo McCarthy, acusada de atividades comunistas. Devido à pressão política, a liga acabou se desfazendo em 1951.

Entretanto, não há uma única foto da NYL que não tenha uma mistura de trabalho artístico e alguma crítica social. Abaixo seguem algumas fotos:

Com cartazes carregando as palavras “doença”, “morte, “pobreza”, “crime” como produtos da favela, “Slums Must Go! May Day Parade” é uma crítica ao descaso do governo em relação às pessoas que viviam em situação de extrema pobreza nas favelas de Nova Iorque. em 1936. Foto: © Joe Schwartz., Nova Iorque, c. 1936. Columbus Museum of Art, Ohio, Photo League Collection, Museum Purchase with funds provided by Elizabeth M. Ross, the Derby Fund, John S. and Catherine Chapin Kobacker, and the Friends of the Photo League.

“Shout Freedom”, Charlotte, Carolina do Norte, c. 1948. Foto: © Estate of Rosalie Gwathmey / Licensed by VAGA, New York, NY.

“Lower Eastside Facade”, 1947. Foto: © Erika Stone. Gelatina de Prata, 1947. Columbus Museum of Art, Ohio, Photo League Collection, Museum Purchase with funds provided by Elizabeth M. Ross, the Derby Fund, John S. and Catherine Chapin Kobacker, and the Friends of the Photo League.

Referências:
– “Where Do We Go From Here?“. The New York Public Library’s Online Exhibition Archive.
– ROSENBERG, Karen. “Artists Equipped With a Social Conscience“. The New York Times, 2011.
O dever de honra: menino japonês carregando o irmão morto

Guerra dos Boxers: Execução dos Líderes

Execução pública de um dos líderes Boxers.

Execução pública de um dos líderes Boxers na China durante a Guerra dos Boxers. Foto: © Keystone/Getty Images. “1900: The public execution of a ‘Boxer’ leader in China at point-blank range during the Boxer Rebellion.”.

A Guerra dos Boxers ocorreu entre 1899 e 1900, no final da Dinastia Qing. O levante nasceu a partir de um sentimento nacionalista e antiocidental que surgiu contra a expansão e imperialismo do Ocidente na China.

Iniciado pela milícia Yihetuan, conhecida pelos ingleses como “boxers”, devido à imensa pobreza que assolava o interior chinês e à grande seca que tomou conta da província de Shandong, os boxers começaram a associar as condições de vida difícil da população chinesa aos estrangeiros no país.

A partir desse sentimento antiocidental crescente, os nacionalistas começaram a atacar missões evangélicas, estabelecimentos de estrangeiros, queimaram igrejas e assassinaram chineses cristãos na província de Shandong. Convencidos de que através da luta eram invencíveis, os boxers acreditaram que fossem invulneráveis às armas ocidentais.

Vendo a situação demandando cada vez mais uma posição, de forma exitante a Imperatriz apoiou as reivindicações dos nacionalistas e promoveu um cerco contra os estrangeiros, durante 55 dias. Após o início do levante pelo exército chinês, oito nações se uniram para intervir no cerco. Entre essas nações estavam: Áustria-Hungria, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, o Reino Unido e o Estados Unidos.

As oito nações enviaram tropas que conseguiram vencer o exército imperial e capturaram Pequim em 14 de agosto de 1900. O cenário que se seguiu à captura e fim do levante foi de pilhagem das cidades e o início das execuções de todos aqueles que eram suspeitos de fazerem parte dos Boxers.

No ano seguinte, em 7 de setembro de 1901, o Protocolo Boxer foi criado com a intenção de executar todos os funcionários do governo chinês que haviam apoiado o levante. Além disso, o império chinês foi penalizado a pagar impostos como responsabilização social às oito nações, a serem pagos em 39 anos.

Referências:
– Foto: © Keystone/Getty Images. 1900: The public execution of a ‘Boxer’ leader in China at point-blank range during the Boxer Rebellion..
– XIANG, Lanxin. The origins of the Boxer War: a multinational study. Psychology Press: 2003.
– YAPP, Nick. GettyImages: 1900s. Könemann: 2001.

A desnazificação da Alemanha

Após a rendição da Alemanha, os Estados Unidos e a Inglaterra começaram uma campanha de “desnazificação” no país. Para tanto, tudo o que lembrava o partido Nazista começou a ser destruído e os culpados começaram a ser apontados pelos estadistas vencedores da guerra. Na imagem, soldados alemães presos sendo obrigados a verem a filmagem de um campo de concentração em 1945.

A “desnazificação” da Alemanha

Por algum tempo as imagens dos campos de concentração começaram a invadir os países Aliados, chocando a população; isso acabou gerando um sentimento de revolta e a pressão para que houvesse não só a culpabilização dos oficiais nazistas, como ocorreria de início, mas também uma culpa coletiva para todo o povo alemão.

A culpa coletiva começou também a ser utilizada no processo de “desnazificação” da Alemanha. O meio utilizado era levar os civis alemães até campos de concentração e fazê-los visitar as instalações, bem como ver os corpos dos prisioneiros mortos; além de cartazes espalhados pelas ruas com fotos de mortos e os dizeres “A culpa é sua”. Outro recurso utilizado para a culpa coletiva foi a criação de filmes mostrando os atos do Partido Nazista tanto para os civis, quanto para os soldados alemães.

Referência:
Fotografia: United States Holocaust Memorial Museum, cortesia de Joseph Eaton. ID: #55317.
CASEY, Steven. “The Campaign to sell a harsh peace for Germany to the American public, 1944–1948“. London: LSE Research Online, 2005.
A guerra de mentira entre Rússia e Geórgia

A guerra de mentira entre Rússia e Geórgia

Guerra de Mentira - Geórgia e Rússia

TV estatal da Geórgia transmitiu falsa notícia sobre uma nova invasão de tropas russas ao país.

As feridas da guerra entre a Rússia e sua ex-colônia soviética Geórgia estão abertas desde 2008, quando um conflito de apenas cinco dias deixou quase 1000 mortos, incluindo civis (fontes alternativas contabilizam mais de 3.000 mortos durante os combates), e mais de 100.000 refugiados. Na época, o Exército Vermelho chegou a posicionar suas tropas à apenas 50km de Tbilisi, capital georgiana.

A “Guerra de Mentira” entre Rússia e Geórgia

O canal estatal ImediTV transmitiu ao vivo no sábado, dia 13.03.2010 às 20:00 horas, um comunicado de urgência informando que o país estava sendo novamente invadido pelos russos, informando ainda que o presidente Mikhail Saakashvili estava morto e que líderes opositores apoiavam o ataque. Para dar mais “veracidade” a notícia, imagens do conflito de 2008 eram retransmitidas sob a alcunha de serem recentes. Não precisou de mais nada para instaurar o pânico geral no país. O comunicado coincidiu com o fato das linhas telefônicas estarem cortadas no momento da exibição das imagens da falsa guerra, dando início ao desespero em uma nação que há menos de 18 meses já havia perdido centenas de militares para uma guerra sem causa. Vários hospitais afirmaram ter recebido inúmeras ligações com queixas de infartes, palpitações e outros problemas de saúde provocados em decorrência do falso comunicado de guerra.

Felizmente, com a ajuda de correspondentes da BBC, a situação foi resolvida a tempo. A infeliz tentativa de imitar Orson Welles foi “cumprida em partes”. Em 1938, Orson Welles produziu uma transmissão radiofônica intitulada “A Guerra dos Mundos”, que ficou famosa mundialmente por provocar pânico nos ouvintes, vez que imaginavam estar enfrentando uma invasão de extraterrestres. Um exército que ninguém via, mas que de acordo com a dramatização radiofônica, em tom jornalístico, acabara de desembarcar no nosso planeta. A diferença foi que uma guerra entre humanos e extraterrestres era algo inexistente, ao contrário de uma guerra entre Rússia e Geórgia, que era real e já havia ocorrido.

Referências
Bogus TV report of Russian invasion panics Georgia. BBC News.
Imedi Tv e la “Fake War” in Georgia – La tv che riprende Welles. TVBlog
Ahmad Shah Massoud – O Leão do Panjshir

Ahmad Shah Massoud – O Leão do Panjshir

Ahmad Shah Massoud foi um líder político e militar do Afeganistão. Formado em Engenharia pela Universidade de Cabul, recebeu o apelido de “Leão do Panjshir” durante a invasão soviética (Guerra do Afeganistão – 1979/1989), quando repeliu com sucesso 8 grandes ofensivas do Exército Vermelho ao Vale do Panjshir, região montanhosa ao norte do país, local onde nasceu. Após a retirada soviética em 1989, Massoud foi um dos líderes responsáveis por manter a ordem no Afeganistão nos anos subsequentes e chegou a exercer a função de Ministro da Defesa.

Ahmad Massoud: O Leão do Panshjir

Sempre contrário à milícia extremista e a interpretação extremista do Alcorão feita pela Al-Qaeda, foi forçado a se retirar juntamente com o restante de suas tropas para o norte do território afegão, onde se estabeleceu e iniciou a resistência armada contra o Talibã por meio da organização político-militar “Aliança do Norte”. Massoud usou todo seu carisma e popularidade para ajudar a solucionar uma guerra civil no vizinho Tajiquistão, influenciando as partes envolvidas a aceitarem um plano de paz da ONU. Também era contra a interpretação extremista do Islã, defensor da democracia e dos direitos das mulheres, da igualdade dos indivíduos e a favor de um Estado sob a égide do Direito Internacional.Por ter combatido “árabes”, O Leão do Panshjir gozava de uma popularidade maior entre os ocidentais do que entre os próprios árabes.

Ahmad Shah Massoud, além de um grande líder, era um visionário. Ao mesmo tempo em que tentava lidar com as rígidas tradições afegãs, sabia que o desenvolvimento de seu povo só seria alcançado por meio da educação. Em contraste com as rígidas regras impostas pelo Talibã na maior parte do território afegão, nas áreas controladas por Massoud, homens e mulheres eram iguais e gozavam dos mesmos direitos e deveres. As mulheres e meninas eram autorizadas a trabalharem e irem para a escola, não eram obrigadas a vestirem a burca afegã (vestimenta conservadora que cobria todo o corpo da mulher). Massoud também se posicionava contra os casamentos forçados e, inclusive, chegou à intervir em favor de mulheres em algumas ocasiões. Durante anos, centenas de milhares de refugiados afegãos fugiram de áreas controladas pelo Talibã e se estabeleceram em território sob domínio da Aliança do Norte.

Massoud e o fotógrafo francês Cristophe de Ponfilly.

Massoud e o fotógrafo francês Cristophe de Ponfilly.

A morte de Ahmad Shah Massoud

No dia 9 de setembro de 2001, apenas dois dias antes dos ataques terroristas nos Estados Unidos ao World Trade Center e ao Pentágono, dois homens-bomba árabes que diziam ser repórteres de uma emissora dos Emirados Árabes Unidos detonaram os explosivos logo no início da suposta entrevista, ferindo Ahmad, que não resistiu e morreu horas depois. Nas semanas anteriores, Massoud já tinha reunido com vários líderes tribais do Afeganistão e adiantado todos os preparativos para o início da ofensiva liderada pelos Estados Unidos e que culminou com a queda do Talibã. Seus seguidores o chamam de Amir Sahib-e Shahid (“Nosso Comandante Martirizado Amado”).

Após sua morte, Massoud foi nomeado “Herói Nacional do Afeganistão” por ordem do presidente afegão, Hamid Karzai. A data da sua morte, 09 de setembro, é um feriado nacional conhecido como “Dia Massoud” no Afeganistão. Muitos de seus seguidores o enxergam não apenas como um comandante militar, mas também como um líder espiritual (O túmulo fica situado no alto de uma montanha em Pans, perto de onde nasceu, e que atualmente é considerado um lugar sagrado por muitos afegãos). Em 2002, foi nomeado postumamente para o Prêmio Nobel da Paz.

Mausoléu de Ahmed Shah Massoud, localizado em uma montanha no Vale do Panshjir.

Mausoléu de Ahmed Shah Massoud, localizado em uma montanha no Vale do Panshjir.

Referências:
Marcela Grad. Masoud: An Intimate Portrait of the Legendary Afghan Leader. Webster University Press.
Ahmad Shah Masoud: Lion of Afghanistan, Lion of Islam.
Masoud – O Afegão do Destino. Documentário.
O dever de honra: menino japonês carregando o irmão morto

As humilhações pós-Segunda Guerra Mundial

Essa imagem retrata apenas algumas das muitas mulheres que sofreram violência e humilhações ao final da Segunda Guerra.

Mulher humilhada, com a cabeça raspada por ter se relacionado com o inimigo — alemão — e, dessa relação, ter nascido um filho. Agosto de 1944. Foto: Robert Capa/Getty Images/LIFE

O nome de Robert Capa é comumente relacionado às históricas fotos de combates, especialmente aquelas tiradas durante a Operação Overlord, conhecida como “Dia D”. Contudo, como fotógrafo preocupado em retratar os mínimos detalhes da sociedade daquela época, Capa também se preocupou em mostrar os resultados da Segunda Guerra Mundial.

Durante a libertação da França, o fotógrafo registrou as humilhações sofridas por aqueles que foram acusados de manter a chamada “Colaboração Horizontal”. No caso das mulheres, a colaboração horizontal dizia respeito em manter relações sexuais com o inimigo — nazistas — durante a ocupação.

A punição era a raspagem à força da cabeça em público, cuja plateia entoava insultos e severas humilhações. Milhares de pessoas passaram por esse tipo de situação; outros tantos sofreram ainda mais, sendo espancados e até mesmo mortos. Porém é fato que todos os acusados foram humilhados.

A prática de raspar a cabeça como retaliação remonta a Idade Média, quando mulheres acusadas de adultério eram desnudadas e tinham o símbolo de sua beleza — os cabelos — raspados. A punição foi reintroduzida, novamente, como castigo no início do século XX. Os próprios alemães aplicaram essa retaliação às mulheres que tiveram filhos com soldados das tropas francesas invasoras da Renânia em 1923.

Igualmente, no decorrer da Segunda Guerra, o Estado nazista também puniu alemãs que mantinham relações com não-arianos e prisioneiros. Ao final da guerra, durante a libertação francesa, Capa registrou a prática em solo francês, demonstrando que a ferida provocada pela guerra acabou pressionando o oprimido — povo — também a tomar medidas opressoras.

Referências:
– HOZ, Felipe De La.”Robert Capa Reveals an Ugly Side of Liberation in WWII France“. Life Magazine.
– BEEVOR, Antony. “An ugly carnival“. The Guardian.

Winston Churchill: “nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.

Em meados de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o conflito se encontrava em uma fase decisiva. A Luftwaffe (Força Aérea Alemã) bombardeava incansavelmente inúmeras cidades da Inglaterra e restava apenas aos bravos pilotos da RAF (Real Força Aérea Britânica) o dever e a responsabilidade de defender o território britânico e o Canal da Mancha da “blitz aérea” promovida pelos alemães.

“Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”

No dia 11 de julho de 1940, o almirante Erich Raeder, comandante-em-chefe da Kriegsmarine (Marinha Alemã), disse a Hitler que uma invasão marítima só poderia ser contemplada como um último recurso e somente após a superioridade aérea plena ter sido alcançada pelos alemães. Com a Kriegsmarine enfraquecida, a poderosa Luftwaffe tinha em suas mãos a tarefa de criar condições favoráveis para uma invasão.

Nos meses de julho e de agosto de 1940, uma série de batalhas aéreas pelo controle do Canal da Mancha (Kanalkampf) entre a Luftwaffe e a RAF proporcionou tons dramáticos à Batalha da Inglaterra. No dia 13 de agosto de 1940, a Royal Air Force resistiu a um ataque massivo dos alemães (Adlertag) que, apesar de terem conseguido infligir muitos danos e fazer vítimas sobretudo em solo, não obteve êxito em dominar o espaço aéreo britânico. No dia 20 de agosto de 1940, Winston Churchill, durante um discurso na Câmara dos Comuns, proferiu a célebre frase:

A gratidão de todos os lares em nossa ilha, em nosso Império e certamente no mundo inteiro, exceto nas casas dos culpados, vai para os aviadores britânicos que, sem se intimidarem com as probabilidades, incansáveis em seu desafio constante e perigo mortal, estão virando a maré da Guerra Mundial com sua bravura e devoção. Nunca antes no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos. Todos os corações estão com os pilotos de caça, cujas brilhantes ações que vemos com nossos próprios olhos dia após dia, nunca deveremos esquecer, noite após noite, mês após mês, nossos esquadrões de bombardeiros viajam para a longínqua Alemanha, encontrando seus alvos na escuridão por sua grandes habilidades de navegação, apontando seus ataques, muitas vezes sob fogo pesado, muitas vezes com perdas graves, com deliberada e cuidadosa discriminação, infligem golpes devastadores sobre toda a estrutura técnica e bélica do poder nazista….”